No final do último mês de junho, tive a oportunidade de acompanhar, a convite do comandante do Batalhão de Operações Especiais de Fuzileiros Navais (BtlOpEspFuzNav, também conhecido como “Batalhão Tonelero”), Capitão de Mar e Guerra (CMG) Campos Mello, as ações de Incursão Anfíbia levadas à efeito em decorrência da Operação INCURSEX 2017. Realizada entre os dias 19 e 30 de junho na Ilha da Marambaia, região de Mangaratiba (estado do Rio de Janeiro), esta edição do tradicional Exercício conduzido anualmente pela Marinha do Brasil (MB) foi executada valendo-se de uma Força de Incursão (FORINC) nucleada no Batalhão Tonelero.
O desencadeamento das ações levadas à efeito durante a Operação INCURSEX 2017 consideravam um cenário fictício, no qual forças insurgentes se rebelaram contra o governo do país Cinza valendo-se da força para impor sua vontade. Em resposta à iniciativa rebelde, o Comandante Supremo do país Tupí convocou seu Conselho Nacional de Defesa, que após deliberar acabou optando por enviar uma Força-Tarefa (FT) para a costa de Cinza. Como agravante da situação, acredita-se que os insurgentes estejam sendo treinados por tropas de dois países vizinhos (Amarelo e Vermelho). Nesse contexto, projetando um eventual apoio de Tupí à Cinza, coube à FORINC a tarefa de resgatar os nacionais de Cinza, destruir os paióis de Misseis Superfície Ar (MAS) que ameaçavam a aproximação das aeronaves de Tupí, inutilizar a embarcação artilhada que oferecia risco à FT de Tupí, neutralizar a capacidade de treinamento dissidente, levantar dados de inteligência de modo a encontrar evidências do envolvimento de Amarelo e Vermelho.
No desencadeamento das ações, programadas para ocorrer simultaneamente valendo-se da escuridão que antecede o alvorecer, encontrava-me no Centro de Operações (CO), teoricamente instalado em uma das embarcações de guerra da FT de Tupí (na prática o CO foi constituído em uma das edificações localizadas na ilha), quando foi alcançada a Hora H do Dia D (05:00hs da manhã do dia 29/06). Embora pudesse acompanhar a sucessão de eventos por meio de imagens de satélite projetadas em uma das paredes do CO, foi possível ouvir o eco provocado pela sequência de explosões e disparos procedentes dos diferentes locais onde a ofensiva era desencadeada.
A Operação INCURSEX 2017 buscou aprimorar o grau de aprestamento dos Comandos Anfíbios (COMANFs) nos procedimentos de incursão, especificamente no que se refere às atividades de reconhecimento, infiltração (aérea e marítima), entrada em compartimento, resgate de reféns, ações de comandos e condução de fogo. Além disso, o Exercício procurou testar a capacidade de controle da ação planejada pelos Estados-Maiores nos diversos níveis, sendo exploradas competências inerentes ao Comando e Controle, às atividades de Inteligência e Contra-Inteligência, bem como à coordenação de Apoio de Fogo. Entretanto, convém destacar que o principal objetivo do Exercício em questão foi empregar uma Força Naval Expedicionária para realizar Operações Militares no contexto de uma crise político estratégica, cumprindo missões de Operações Especiais (OpEsp).
O Exercício contou com a participação de cerca de 300 militares do Corpo de Fuzileiros Navais (CFN), além de meios navais, aeronavais (fornecidos pela MB) e aéreos (disponibilizados pela Força Aérea Brasileira (FAB]), totalizando 800 participantes aproximadamente. Participaram da Operação as seguintes Organizações Militares (OM):
Comando da Força de Fuzileiros da Esquadra (ComFFE);
Comando da Tropa de Reforço (ComTrRef);
Comando da Divisão Anfíbia (ComDivAnf);
Comando do Desenvolvimento Doutrinário do Corpo de Fuzileiros Navais (CDDCFN);
Batalhão de Operações Especiais de Fuzileiros Navais (BtlOpEspFuzNav);
Batalhão de Comando e Controle (BtlCmdoCt);
Batalhão de Controle Aerotático e Defesa Antiaérea (BtlCtAetatDAAe);
Batalhão Logístico de Fuzileiros Navais (BtlLogFuzNav);
3º Batalhão de Infantaria de Fuzileiros Navais – Batalhão Paissandu (3BtlInfFuzNav);
Grupamento de Mergulhadores de Combate (GRUMEC);
2º Esquadrão de Helicópteros de Emprego Geral (HU-2).
No que se refere aos meios envolvidos, estiveram envolvidas no Exercício as seguintes meios:
Submarino S30 Tupi;
Navio Patrulha Oceânico (NaPaOc) P121 Apa;
Fragata F43 Liberal;
Embarcação de Desembarque de Carga Geral (EDCG) L20 Marambaia (fazendo as ações do Navio Doca Multipropósito (NDM) Bahia G-40;
Helicóptero UH-14/15 do 2º Esquadrão de Emprego Geral (HU-2) da MB;
Aeronave C-95 Bandeirantes da FAB;
Embarcações de Casco Semi Rígido (ECSR) Flexboat SR-620;
ECSR Gamper;
Aeronave Remotamente Pilotada (ARP) Phantom 3;
ARP Mavic Pro.
Especificamente no caso da MB, a Operação INCURSEX 2017 exercitou a capacidade de mobilização e resposta rápida no que se refere ao emprego de Forças Navais Expedicionárias em situações de crise, utilizando-se de tropas altamente preparadas para o combate em missões de risco elevado. Cabe esclarecer que as Forças Navais podem atuar em todas as Águas Jurisdicionais Brasileiras (AJB [também conhecidas pelo termo “Amazônia Azul’]) e em regiões de Fronteiras, fazendo uso dos meios da Esquadra e da Força de Fuzileiros da Esquadra (FFE). Caso seja necessário, os meios navais também podem ser apoiados por recursos ofertados pela FAB e pelos Distritos Navais (DN) considerando operações realizadas em faixas de fronteira terrestre.
Fonte: FOpEsp | Rodney Alfredo P. Lisboa é professor universitário, Pós-graduado em História Militar, Mestre em Estudos Marítimos (área de concentração: Segurança, Defesa e Estratégia Marítima). Sócio correspondente do IGHMB (Instituto de Geografia e História Militar do Brasil). Autor de diversos artigos sobre Operações Especiais, Guerra Irregular e Contraterrorismo.