Por Patrícia Comunello
Exercícios conjuntos entre a Força Aérea Brasileira (FAB) e as Forças Aéreas de países vizinhos fortalecem os esforços de cooperação na luta contra o narcotráfico e outros crimes em zonas de fronteira. O exemplo mais recente de treinamento conjunto inclui a COLBRA IV, em que militares brasileiros e da Força Aérea Colombiana (FAC) realizaram exercícios simulados em pontos distantes até 90 quilômetros de cada lado da fronteira entre Brasil e Colômbia, este exercício foi realizado durante o mês de julho do ano corrente.
O espaço aéreo ficou fechado para voos civis durante as manobras. A restrição foi divulgada para civis e militares por meio de mensagens Notam (Aviso aos pilotos) emitidas pelo controle de tráfego aéreo, de acordo com o Comando de Defesa Aeroespacial Brasileiro (COMDABRA). No lado brasileiro, o exercício foi realizado a partir do Destacamento de São Gabriel da Cachoeira (DASG), base aérea situada a 852 quilômetros de Manaus, capital do estado do Amazonas.
O DASG deu apoio logístico, hospedagem e refeições aos militares que participaram da operação e também fez a vistoria quanto à manutenção adequada das pistas de pouso. Na Colômbia, os militares realizaram exercícios utilizando a estrutura do Grupo Aéreo do Amazonas da FAC (GAA, por sua sigla em espanhol). Eles realizaram as manobras na região amazônica que tem vegetação densa e baixa densidade populacional.
Organizações criminosas transnacionais, muitas vezes utilizam o espaço aéreo da região para o transporte de cargas de drogas, tornando fundamental a cooperação entre as forças de segurança colombianas e brasileiras na luta para reprimir os voos do narcotráfico. “O controle do espaço da área é fundamental na luta contra o narcotráfico entre os dois países”, ressaltou o Major Brigadeiro do Ar Antonio Carlos Egito do Amaral, comandante do COMDABRA..
Os exercícios de simulação testam a capacidade dos militares para detecção, interceptação e acompanhamento dos tráfegos aéreos de interesse (TAI) como parte do esforço para combater o crime transnacional. “Tráfego Aéreo de Interesse compreende aeronaves que fazem voos supostamente irregulares no espaço aéreo entre Brasil e Colômbia”, acrescentou.
Simulação de voos suspeitos
A resposta aos TAIs é um componente fundamental do treinamento COLBRA IV, durante o programa, as aeronaves da FAB ou da FAC simulam um perfil de voo TAI voando a baixa velocidade e altitude. “Os métodos e meios utilizados são os mesmos que as duas forças possuem no planejamento diário de defesa aérea. Ou seja, a operação simula a detecção e acompanhamento de tráfegos que podem ser interceptados no dia a dia”, compara o Maj Brig Egito do Amaral.
O exercício se baseia nas Normas Binacionais de Defesa Aeroespacial Brasil-Colômbia (NBDA número 1 BR/CO), em vigor desde 3 de junho de 2009, e regulam procedimentos permanentes de coordenação e cooperação para controle de atividades aéreas irregulares na fronteira dos dois países.
Antes da atual NBDA, FAB e FAC realizaram duas edições da COLBRA – a primeira em 2005 e a segunda em 2007. A terceira operação foi realizada em 2009, logo após a edição das normas. A última edição do exercício teve o mesmo porte e mobilização de efetivo que o de 2007, segundo o Maj Brig Egito do Amaral.
Um dos trunfos da COLBRA IV foi promover o intercâmbio técnico entre militares das duas Forças Aéreas. Pilotos e controladores de voo brasileiros realizaram exercícios nas unidades da FAC e vice-versa.
“O objetivo é compartilhar experiências e normatizar procedimentos nos diversos níveis da operação”, explica o Mal Brig Egito do Amaral. “Experiências são trocadas, mas nunca são passadas informações sigilosas que possam afetar a atuação da força aérea nas missões rotineiras. Os dados de radar não são compartilhados com outros países, uma vez que são de uso exclusivo do Brasil na defesa e controle do tráfego aéreo”, acrescentou.
Reconhecimento aéreo
Como parte da luta contra as organizações criminosas transnacionais, a FAB coleta dados de inteligência sobre as rotas aéreas utilizadas pelos traficantes de drogas e as pistas de pouso mais empregadas. “Fazer esse levantamento é um trabalho rotineiro para as unidades da FAB situadas na fronteira e que determina o sucesso da repressão ao narcotráfico e outros ilícitos”, diz o major brigadeiro.
A equipe brasileira reuniu os seguintes esquadrões:
:: • Arara (1º/9º GAV, Grupo de Aviação de Manaus, Amazonas);
:: • Cobra (7º ETA, Esquadrão de Transporte Aéreo de Manaus);
:: • Escorpião (1/3° GAV, Grupo de Aviação de Boa Vista, Roraima);
:: • Guardião (2º/6º GAV, Grupo de Aviação de Anápolis, Goiás);
:: • Harpia (7º/8º GAV, Grupo de Aviação de Manaus).
As autoridades colombianas mobilizaram esquadrões ligados ao Comando Aéreo de Combate 2 (CACOM-2) e 3 (CACOM-3) e Grupo Aéreo do Amazonas (GAAMA). Por seu lado, o Brasil mobilizou aeronaves A-29 Super Tucano (defesa aérea), C-98 Caravan (transporte aéreo logístico), E-99 (controle e alarme de voo), C-97 Brasília e C-105 Amazonas (mobilização e desmobilização), além de helicópteros H-60L Black Hawk (missões de busca e salvamento), caso houvesse algum acidente na operação, mas os helicópteros não chegaram a ser utilizados. A Colômbia mobilizou aeronaves A-37 Dragonfly (ataque) e SR-560 Citation (defesa aérea). Os dois lados registraram quase 40 horas de voo.
Controladores de tráfego aéreo brasileiros e colombianos visitaram instalações dos dois países
Os controladores de tráfego da FAB passaram os dias da operação na base do GAAMA, em Leticia. “Eles puderam observar técnicas de controle e defesa usadas pelo país vizinho” ressaltou o Maj Brig Egito do Amaral. Da mesma forma, os controladores de tráfego aéreo colombianos ficaram no IV Centro de Operações Militares (COPM4), localizado em Manaus.
Um dos pontos altos da COLBRA IV foram os exercícios simulados para identificação de tráfego aéreo de interesse quando militares se envolvem no controle e alarme em voo e defesa aérea contra o tráfego de aeronaves desconhecidas.
Durante esta parte da operação, a FAB empregou um C-98 Caravan em uma invasão ao território colombiano. O C-98 foi detectado por um SR-560 Citation e interceptado por um caça A-37 Dragonfly, ambos da FAC. Depois de finalizada a ação no espaço aéreo da Colômbia, a aeronave supostamente inimiga da FAB repetiu a invasão simulada no lado brasileiro.
“Em situações reais, a aeronave é identificada e interrogada”, explica o major brigadeiro. “Se estiver irregular, determina-se a mudança de rota para pousar em um aeródromo definido pela defesa aérea. Após o pouso, a polícia e Receita Federal fazem a abordagem, verificam a carga e apreendem caso seja ilícita.”
Autoridades da Força Aérea escolheram o Caravan para maximizar a segurança dos participantes da COLBRA IV e a possibilidade de pousar em diferentes tipos de pistas de pouso, como grama e cascalho, e com 800 metros de extensão.
A aeronave se ajusta às características da região amazônica, que apresenta instabilidade climática e dificuldades logísticas, explicou o COMDABRA, que planeja e mobiliza o efetivo da FAB nas missões com outros países. O Brasil também realiza operações como a COLBRA com as Forças Aéreas da Argentina, Bolívia, Paraguai, Peru, Uruguai e Venezuela.
FAC realiza exercícios com outros países
“[A COLBRA] é um exercício operacional muito importante para melhorar o treinamento contra os ilícitos e adquirir grande experiência como a da Força Aérea Brasileira em exercícios internacionais”, disse o comandante do Grupo Aéreo do Amazonas, Coronel Jairo Orlando Orjuela Arélavo.
A FAC realiza exercícios semelhantes com Guatemala, Honduras, República Dominicana, Peru, Equador, Panamá, Estados Unidos e Venezuela. O Brasil programou mais um exercício PERBRA, semelhante ao COLBRA, que foi realizado com o Peru entre 24 e 28 de agosto, marcando a quinta edição do exercício operacional conjunto dos dois países, concluiu o Maj Brig Egito do Amaral.