Mais de duzentas militares brasileiras já serviram na Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti (MINUSTAH), atualmente outras 10 se preparam para serem enviadas ao país caribenho em maio quando participarão do 22º Contingente do Brasil na missão de paz. Uma dessas oficiais a Tenente-Coronel Maria das Graças Andrade de Jesus, é uma advogada que dará assessoria jurídica ao 22º Contingente do Batalhão de Infantaria de Força de Paz (BRABAT 22).
Representar o Brasil em Missão de Paz é motivo de orgulho para todo militar, diz a tenente-coronel Maria das Graças. O lema do BRABAT 22 será ‘Tudo por um ideal’, na certeza de que os desafios serão constantes mas que para vencê-los empregaremos os nossos mais nobres esforços com coragem, perseverança e fé. Atualmente, o Brasil tem 14 mulheres no BRABAT, quatro no BRAENGCOY e uma no Grupamento de Fuzileiros Navais, segundo o Ministério da Defesa.
Haitianos apoiam o batalhão brasileiro
Outra oficial a Tenente Paola de Carvalho Andrade, é uma jornalista que trabalhará no Setor de Comunicação Social (G10) do 22º Contingente da Companhia de Engenharia de Força de Paz (BRAENGCOY). Esta é sua segunda passagem no contingente brasileiro na MINUSTAH. A primeiro foi em 2007-2008, quando ela foi um membro do BRABAT 8.
É inegável a grande motivação de participar de uma Operação de Paz, representando o meu país, diz Maria das Graças. Participar do BRABAT 8 foi uma experiência extremamente gratificante, pois o batalhão brasileiro é respeitado e admirado pela população haitiana e pelos contingentes dos demais países que integram a missão.
Além da função de assessora jurídica, ela integrou as ações de Cooperação Civil-Militar (CIMIC), incluindo a distribuição de alimentos, brinquedos e orientações médico-sanitárias desenvolvidas pelo batalhão. “A experiência no Haiti superou as minhas expectativas. Acredito que tenha sido o ápice da minha carreira como advogada e oficial”, diz ela. Tive a oportunidade de liderar e ser liderada, aprender e ensinar, rever conceitos e valores, trocar experiências, enfim, de crescer profissionalmente e como ser humano.
O que mais chamou sua atenção durante a primeira missão foi a oportunidade de interagir com pessoas de diferentes países e culturas. “Dessa forma, conseguimos proporcionar à população haitiana melhor condição de vida e segurança.”
Agora, a Tenente-Coronel Maria das Graças também fornecerá assessoria jurídica ao comando do batalhão, orientando e supervisionando a condução e regularidade dos procedimentos investigativos a cargo do contingente, propondo medidas de treinamento preventivo para as tropas, elaborando recomendações e executando outras missões definidas pelo comandante do BRABAT 22.
Missão ajuda haitianos a caminhar com suas próprias pernas
Segundo a Tenente Paola, as missões de paz aumentam a consciência dos desafios enfrentados por outros povos. Os problemas de países como Haiti, Timor Leste e Sudão são problemas de todos, quando um ser humano é desrespeitado, todos são, diz ela. “A MINUSTAH e outras missões são uma esperança de resgate de dignidade, autonomia e respeito. Isso é motivante.”
Durante a missão, ela vai fornecer informações para os canais de comunicação do Ministério da Defesa e das Forças Armadas. Também servirá de elo para os que desejam conhecer o BRAENGCOY, incluindo órgãos de imprensa, organizações militares ou membros da sociedade civil brasileira ou internacional.
“O G10 funciona como uma assessoria de comunicação sendo que a tarefa mais interessante é a de contribuir para manter o moral da tropa”, afirma. A principal expectativa é que o Haiti seja capaz de restabelecer suas estruturas como estado e que suas instituições recomecem as operações, diz a Tenente Paola.
“A MINUSTAH não resolverá os problemas dos haitianos mas poderá minimizá-los, dando ferramentas e segurança para que eles se organizem e assumam seus rumos”, diz. Ao longo desses 11 anos de missão, obtivemos o respeito da ONU e da população haitiana, isso fortalece a imagem do Brasil mas sobretudo fortalece a nossa identidade e a consciência de que podemos fazer – e fazer bem.
Preparação intensa
O treinamento ao qual as duas mulheres se submeteram é o mesmo do resto dos membros da missão. “Recebemos treinamentos diversos, alguns são direcionados a todos os militares do Contingente e outros são específicos por área de atuação”, explica a Tenente Paola. A primeira fase de preparo é descentralizada. As militares recebem informações sobre a missão e as peculiaridades do Haiti, além de instruções de tiro, saúde e direitos humanos.
Depois, elas realizam atividades específicas, como o Estágio de Comunicação Social, Estágio de Preparação para o Estado-Maior e os Cursos para Intérpretes. “Além de promover a reciclagem dos militares, esses estágios os colocam em contato com a experiência de quem já esteve em missões anteriores”, diz a Tenente Paola.
Por fim, é feito o preparo centralizado: durante um mês, os militares participam de treinamentos que simulam situações reais. Realizam tarefas e são submetidos às pressões que encontrarão no Haiti. O 22º Contingente do Brasil da missão humanitária deve permanecer no Haiti por seis meses mas a sua permanência poderá ser estendida pela ONU.