Por Flávia Ribeiro
Música e serviço militar estão no sangue da mineira Carolyne Gonze, 22 anos. Ela é saxofonista, neta de maestro e sobrinha de um Sargento Músico do Exército Brasileiro. Mas no fim do ano passado, ela soube que poderia unir suas duas vocações. Pela primeira vez, o Exército Brasileiro estendeu às mulheres o direito de se inscrever no concurso para Sargento Músico.
Não foi fácil entrar, 1.818 homens e 169 mulheres de 18 a 26 anos concorreram a 56 vagas. Carolyne é uma das seis mulheres aprovadas. Em abril, elas iniciaram o curso na Vila Militar, em Deodoro, Zona Oeste do Rio de Janeiro.
“Vim buscar minha realização pessoal. Realizei o sonho de ser parte das Forças Armadas sem precisar abandonar a música”, comemora ela, que é filha de policiais civis e já serve de inspiração para os irmãos mais novos, gêmeos de 18 anos que prestarão o mesmo concurso no ano que vem.
O Curso de Sargento Músico é mais um passo no caminho de inserção da mulher no Exército Brasileiro. Esta abertura vem ocorrendo de forma mais sistemática desde o início dos anos 90, quando a Escola de Administração do Exército (EsAEx) aceitou as primeiras 49 mulheres, aprovadas em concurso público.
Em 2002, foi a vez do Curso de Sargento de Saúde abrir as portas para mulheres. Na turma deste ano, 62 foram aprovadas. Elas dividem o alojamento com as seis futuras Sargentos Músicos.
“É uma grande responsabilidade ser dessa primeira turma. Estamos abrindo mais caminhos para a mulher nas Forças Armadas”, diz a flautista Joyce Souza, 26, do Rio de Janeiro.
Joyce tem formação clássica, adquirida nos quatro anos de estudo de música sacra e clássica no Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil, que fica no Rio. Agora, que chegou aonde queria, ela já definiu outro objetivo. “Quero entrar para a Orquestra Sinfônica do Exército, em São Paulo”, diz.
Já a saxofonista maranhense Bianca Christina Cardoso Santos, 26, quer ser mestre de banda do Exército. Para isso, ela precisará chegar pelo menos a Tenente na hierarquia militar – os homens e mulheres que entram para o Exército pela Escola de Sargentos podem chegar a Capitão, o que também é uma meta para Bianca.
“Quero ser regente, e por isso sei que preciso me aperfeiçoar como música e subir na hierarquia”, diz Bianca, que estudou na Escola de Música do Convento das Mercês, em São Luís, Maranhão.
O dia das futuras Sargentos Músicos começa com a alvorada, às 6h. Durante o dia, elas têm aulas teóricas e uma rotina puxada de exercícios físicos até o toque de recolher, às 22h.
No primeiro ano de instrução, no 1º Grupo de Artilharia Antiaérea, o foco é no treinamento militar. Apenas no segundo ano do curso, na Escola de Sargentos de Logística, a dedicação à música ganhará destaque.
“O orgulho que a minha família está sentido me dá forças para vencer esse desafio”, diz Stefani de Freitas Dagostim, 23, que toca bombardino e era regente e professora da banda da cidade de Lauro Müller, em Santa Catarina.
Outras portas irão se abrir em breve para as mulheres no Exército Brasileiro. A Lei nº 12.705, de agosto de 2012, estabelece que as mulheres poderão receber treinamento também para Combatentes a partir de 2016.
Sancionada pela presidente Dilma Rousseff, a lei dava ao Exército o prazo de até cinco anos para se preparar para integrar alunas à Escola Preparatória de Cadetes do Exército (EsPCEx), à escola de oficiais da Academia Militar das Agulhas Negras (Aman) e à Escola de Sargentos das Armas (ESA).
“Está sendo feito um estudo para a inserção feminina no segmento de combate. Teremos a primeira turma em dois anos”, diz o Major Renato Libânio, chefe de instrução do período básico da formação de Sargentos no 1º Grupo de Artilharia Antiaérea.