Por Alex Alexandre de Mesquita e Adriano Santiago Garcia
As origens do ensino de blindados no Exército Brasileiro (EB) têm o seu marco em 25 de maio de 1938. Por meio do Aviso nº 400, foi criada a Subunidade Escola Motomecanizada, marcando a retomada definitiva da implantação dos blindados no Exército Brasileiro, que foi reiniciada após a desativação da Companhia de Carros de Assalto.
Aquela época, o Aviso já previa a criação de um Centro de Instrução. A Subunidade Escola foi o núcleo básico do Centro de Instrução de Motorização e Mecanização (CIMM), ou seja, foi responsável pela preparação e pela organização de tudo que fosse necessário para a futura criação de um Centro de Instrução (1).
As demandas das modernas plataformas levaram à transformação do CIMM em Escola de Moto mecanização (EsMM). Até aquele momento, o ensino tático, de operação e de manutenção era realizado no mesmo local, permitindo a criação, a padronização e a difusão da nova cultura. Contudo, com a criação do Quadro de Material Bélico, a EsMM foi transformada em Escola de Material Bélico (EsMB), suscitando uma separação entre o ensino tático e de operação, que foi para as escolas de formação, e o ensino de manutenção, que permaneceu na nova escola.
Em 1996, o Exército Brasileiro adquiriu os Leopard 1A1 e os M60 A3TTS e foi criado o Centro de Instrução de Blindados General Walter Pires (CIBldGWP), que retoma o ensino da operação e o ensino tático, cooperando com os conhecimentos da Academia Militar e da Escola de Sargentos. O ensino de manutenção ainda permanecia na EsMB. Em 2010, a EsMB é transformada em Escola de Sargento de Logística (EsSLog) e os cursos para sargentos mecânicos de armamento e mecânicos de viatura blindadas passam a ser realizados no CI Bld (2).
Hoje, o CI Bld é o estabelecimento de ensino responsável pela especialização de oficiais e de sargentos no emprego tático das frações blindadas e mecanizadas, até subunidade, na operação e na manutenção de todas as plataformas blindadas (3), contudo, a AMAN e a EsSA continuam a ministrar assuntos referentes ao tema, conforme previsto em seus Planos Integrados de Disciplinas (PLANID), dentro do moderno conceito do Ensino por Competências.
Apesar deste arranjo destinado à capacitação do pessoal do Exército Brasileiro, a adoção da família Leopard 1BR, da Viatura Guarani e da VBCOAP M109 A5+ BR apresenta novos parâmetros de conhecimento, que exigem militares extremamente especializados, o que não é alcançado nas escolas de formação. Isto quer dizer que os Comandantes de Organizações Militares Blindadas e Mecanizadas não recebem os seus Aspirantes-a-Oficial e os seus Terceiros Sargentos de carreira com o conhecimento necessário ao desempenho pleno das suas funções. Esta é uma peculiaridade do Sistema de Educação do EB.
Na AMAN (4), o curso que detêm a maior carga horária destinada ao ensino dos meios e das frações blindadas e mecanizadas é o Curso de Cavalaria. Os demais cursos não dispõem de tempo suficiente para abordar o tema do modo exigido atualmente. A EsSA possui mais restrições se comparada com a AMAN, pois o seu curso de formação, na Arma, é de apenas um ano, dificultando ainda mais a preparação dos sargentos para o desempenho das suas funções na Tropa Blindada.
O mesmo ocorrendo com os egressos da EsSLog. Não resta dúvida de que as Escolas de Formação possuem características e desafios que transcendem as necessidades específicas da Tropa Blindada, pois o novo Conceito Operativo do Exército Brasileiro, as Operações no Amplo Espectro do Conflito, exigem uma formação mais complexa.
Tanto a AMAN, quanto as Escolas de Formação de Sargentos estão cumprindo a sua missão de maneira adequada, mas é fato que há um conhecimento muito específico a ser adquirido pelos combatentes blindados para o desempenho das suas funções. Esta situação não é nova e, por isso mesmo, alternativas de solução foram concebidas.
A primeira medida e mais exitosa até o momento foi a criação das Seções de Instrução de Blindados–SIB (5) nas OM Blindadas, que têm como uma das principais missões realizar a Capacitação Técnica e Tática do Efetivo Profissional (CTTEP), com ênfase na operação dos meios Blindados. Esta missão está prevista, inclusive, no Capítulo X do Programa de Instrução Militar do Comando de Operações Terrestres (PIM COTER).
Além da histórica cooperação de instrução entre o CI Bld e os Estabelecimento de Ensino de Formação (6), um novo instrumento, no contexto do Ensino por Competências, pode contribuir, também, para reduzir a atual situação: as Disciplinas Eletivas. O CI Bld e a AMAN já estão buscando utilizar a proposta das Disciplinas Eletivas para realizar estágios e cursos para os Cadetes.
O Centro General Walter Pires já planeja, para 2016, realizar um Estágio Básico de Blindados para os Cadetes de Infantaria, Cavalaria, Artilharia, Engenharia, Comunicações e Material Belico e um Curso de Operação para os Cadetes de Cavalaria. Além disso, pretende-se reorganizar as atividades de ensino, permitindo atender melhor às atuais demandas da Tropa Blindada.
Esta reorganização, a longo prazo, permitirá aumentar a especialização dos sargentos egressos da EsSA e da EsSLog. Por fim, cumpre reforçar que a missão do Centro General Walter Pires é especializar oficiais e sargentos para as OM Blindadas, Mecanizadas e Logísticas das brigadas de mesma natureza e as medidas para que isto ocorra estão sempre em andamento.
Os Comandantes das OM também podem cooperar para o sucesso desta missão, por meio da organização e utilização das suas SIB e da sugestão de aperfeiçoamentos nos cursos e estágios da Forja da Tropa Boina Preta do Brasil.
AÇO, BOINA PRETA, BRASIL!
Nota da Redação: O Autor Alex Alexandre de Mesquita é Tenente-Coronel da Arma de Cavalaria e Comandante do Centro de Instrução de Blindados contou com a colaboração do 1º Tenente da Arma de Cavalaria Adriano Santiago Garcia Instrutor do CI Bld.
Notas : (1) Parte do texto retirado do site da EsSLog (http://www.esslog.ensino.eb.br), (2) A EsSLog tem a missão da formação dos futuros 3° sargentos do Exército Brasileiro nas seguintes qualificações: Material Bélico – Manutenção Automóvel, Material Bélico – Manutenção de Armamento, Material Bélico – Mecânico Operador, Intendência, Manutenção de Comunicações, Topografia, Saúde e Música (site EsSLog), (3) A especialização dos operadores de Gepard 1A2 é realizada na Escola de Artilharia de Costa e Antiaérea (EsACosAAe), (4) Hoje, o cadete passa três anos da sua formação nas Armas: Infantaria, Cavalaria, Artilharia, Engenharia, Comunicações, Intendência e Material Bélico, (5) A primeira SIB foi organizada em Pirassununga, no antigo 2º RCC, quando os oficiais e sargentos egressos dos cursos do Leopard 1A1, realizados na Bélgica, iniciaram a capacitação do efetivo do regimento, (6) O CI Bld apoia outros Estb Ens desde a sua criação, seja por meio de instruções em suas instalações, seja por intermédio do envio de instrutores e monitores às escolas.