A escolha do Rio de janeiro como palco dos principais eventos internacionais nos próximos anos pode ter sido precipitada. A realização de eventos do porte de uma Copa do Mundo ou de uma Olimpíada exige muito mais que a construção de arenas esportivas, tímida expansão do metrô e alguns eixos de transporte rodoviário. A cidade é o berço do crime organizado no Brasil e até hoje tem exportado criminosos com alto grau de periculosidade para outros estados e até mesmo outros países. A menos de um mês integrantes do Comando Vermelho foram presos no Paraguai.
A situação da segurança pública na cidade, já retratada por filmes como Cidade de Deus, Tropa de Elite, dentre outros melhorou, mas está longe de ser confortável. O atual Governo do Rio de Janeiro foi forçado a enfatizar suas ações quando, em novembro de 2010, os líderes do Comando Vermelho afrontaram o poder público ostensivamente. Naquela oportunidade, mais de 30 pessoas morreram e mais de setenta veículos (ônibus e carros) foram incendiados em vários bairros da cidade, caracterizando atos de terrorismo contra a população. Ao ter questionada capacidade de garantir a segurança dos eventos, e percebendo os gigantescos investimentos que o estado poderia deixar de receber, foi realizado um esforço inédito, concentrando policiais para invadir uma região abandonada a décadas pelo poder público. Embora tenha sido televisionado ao vivo pelas emissoras de televisão fuga dos traficantes da Vila Cruzeiro para o Complexo do Alemão pela Serra da Misericórdia e posterior ocupação da área pelo Exército por 19 meses, não podemos esquecer que a cidade possui centenas de favelas. Mesmo tendo sido instaladas Unidades de Polícia Pacificadora (UPP) em algumas dezenas delas, a aniquilação de organizações criminosas como o Comando Vermelho(CV), Terceiro Comando Puro(TCP) e Amigos dos Amigos (ADA) está muito longe de ocorrer. As atividades estão apenas moderadas ou seja , menos ostensivas. O consumo de drogas interno nas favelas é bastante significativo, garantindo a lucratividade dos traficantes; além disso, pessoas continuam indo comprar drogas nas favelas para consumo próprio ou para revenda. A realização de eventos como Jornada Mundial da Juventude e Copa das Confederações tem provocado uma certa ansiedade em promover a cidade como um lugar completamente regenerado da violência e é precipitada. Esse processo é agravado quando as favelas cariocas são apresentadas inclusive em filmes produzidos por Hollywood como Hulk , Fast 5 (Velozes e Furiosos 5), dentre outros. É natural que isso gere curiosidade de estrangeiros e moradores de outras cidades do Brasil. Aproveitando-se dessa premissa, empresas passaram a promover uma verdadeira “roleta russa”, vendendo pacotes turísticos que incluem visitas a favelas, como se fosse uma atividade absolutamente segura. Não há necessidade de fazer pesquisas muito aprofundadas para verificar a fragilidade do sistema de segurança pública carioca e a enorme exposição que um turista tem ao decidir andar pela cidade. Na última semana, o ataque de traficantes à UPP do Complexo do Alemão, provocou o adiamento de um evento esportivo que contava com a presença do próprio Secretário de Segurança do Estado do Rio de Janeiro. A menos de um mês a imprensa veiculou a ocorrência de estupros em vans, arrastão no bondinho do Corcovado e além disso, centenas de eventos simplesmente deixam de ser registrados pela ineficiência da Polícia Civil em prender a esmagadora maioria dos autores dos crimes ou devido a burocracia das delegacias da cidade.
Acrescente-se a isso o gravíssimo problema das milícias da cidade do Rio de Janeiro que controlam várias favelas. Essas fações são integradas por policiais, bombeiros, vigilantes, agentes penitenciários e militares, fora de serviço ou na ativa. Vários milicianos são moradores das comunidades e contam com respaldo de políticos e lideranças comunitárias locais.
Como não há mais forma de abortar os grandes eventos, é imperioso fiscalizar as empresas que tem promovido passeios turísticos irresponsáveis a locais que não garantem a segurança dos turistas. Cabe lembrar que grande maioria dos cariocas que mora no “asfalto” nunca foi visitar uma favela por questões de segurança, e não de preconceito.