Por : Alex Alexandre de Mesquita e Tiago Alvez Ebling
Em meados da década de 1990, o Exército Brasileiro (EB) iniciou uma importante e necessária modernização da sua tropa blindada, adquirindo as Viaturas Blindadas de Combate Carro de Combate (VBCCC) Leopard 1A1 e M60 A3 TTS. Esta evolução ensejou a modernização da Artilharia de Campanha, por meio da aquisição das Viaturas Blindadas de Combate Obuseiro Autopropulsado (VBCOAP) M 109 A3, uma das plataformas de Artilharia mais tradicionais e bem sucedidas do Mundo.
De origem norte-americana, este material foi sofrendo diversas modernizações, de acordo com as necessidades do Exército dos Estados Unidos e de outros usuários. Sua produção iniciou-se em 1962, junto com o sistema M108 105 mm, este com a produção encerrada no ano seguinte devido à preferência pelo calibre 155 mm. O Exército Brasileiro, que passou a operar esta plataforma a partir dos anos 2000, possui 37 (trinta e sete) VBCOAP M109 A3 que foram compradas do Exército Belga e modernizadas pela empresa SABIEX INTERNATIONAL S/A, no período entre 1999 e 2001.
À semelhança do ocorrido após a aquisição dos Leopard e dos M 60, a aquisição dos Leopard 1A5 BR apontou, mais uma vez, para a necessidade de modernização da Artilharia de Campanha, agora por meio do Projeto Estratégico do Exército (PEE) “Recuperação da Capacidade Operacional”, recentemente denominado Capacidade Plena. Nesse projeto definiu-se a revitalização e modernização de 32 (trinta e duas) das 40 (quarenta) viaturas doadas pelo Exército Americano, por intermédio do Programa FMS (Foreign Military Sales), publicada nos Boletins do Exército nº 12 e nº 26, de 22 de março de 2013 e de 26 de junho de 2015, respectivamente.
Assim como na aquisição dos Leopard 1A5 BR, as outras seis VBCOAP serão utilizadas como doadoras de peças de reposição e para treinamento de procedimentos da guarnição e duas serão utilizadas como simuladores. O Exército do Chile também comprou este material junto ao Governo dos Estados Unidos da América e seus doze últimos carros foram entregues no final de 2014. Alguns componentes os diferenciam dos carros comprados pelo Brasil, como por exemplo, o medidor de Velocidade Inicial (V0 – Muzzle Velocity Radar System), que estará presente em todos os M109 A5 + BR, diferentemente do Chile, que adquiriu um por Bateria de Tiro.
Além disso, o sistema rádio dos M109 A5 + BR será Falcon III da empresa Harris. A modernização realizada nos M109 A5 adquiridos pelo Brasil está sendo feita pela empresa BAE Systems, com previsão de chegada do primeiro lote, com 16 (dezesseis) viaturas, em 2016 e do segundo lote, em 2018. Após este processo, o M109 A5+ BR terá uma configuração que incluirá à Artilharia Brasileira no pequeno grupo de países detentores dessa moderna VBCOAP. Como parte da modernização, serão agregados a esse blindado algumas características do M109 A6, por exemplo o travamento automático do tubo (Remote Actuated Travel Lock) e o medidor de V0.
No entanto, alguns componentes do modelo A5 serão mantidos, como o tubo M284, o reparo M182, o sistema hidráulico e o patim T154. Serão, ainda, acrescidos equipamentos de navegação inercial, GPS; sistema eletrônico de pontaria e computador de tiro, tudo isso aumentará a precisão, proporcionará maior agilidade na entrada em posição e na execução do primeiro disparo, bem como auxiliará nas medidas de proteção contra fogos de contrabateria. Toda essa tecnologia agregada ao carro será aliada ao AFATDS (Advanced Field Artillery Tactical Data System), sistema que automatiza as comunicações entre os subsistemas da Artilharia nos Estados Unidos e que no Brasil será chamado de SISDAC (Sistema Digitalizado de Artilharia de Campanha).
O SISDAC proporcionará maior integração entre os elementos de busca de alvos, os controladores de apoio de fogo, as centrais de tiro e as linhas defogo, dando a possibilidade de simultaneidade de execução de missões de tiro pela mesma linha de fogo, aumentando sobremaneira as capacidades da Artilharia de Campanha do nosso Exército. A aquisição deste novo material de apoio de fogo acarretará diversas mudanças, tanto nas OM que o receberão, bem como no ensino de operação e de manutenção e no emprego. As instalações dos GAC AP que receberão este material já estão sofrendo adaptações e, as OM fatalmente, sofrerão adequações em seus quadros organizacionais para melhor atender à demanda do material.
O ensino de operação e de manutenção também já estão passando por reestruturações em seus planos de disciplina, fruto da experiência adquirida pelo CI Bld, ao longo dos anos, tudo com o intuito de melhor formar os futuros operadores e atender às demandas das unidades de Artilharia e do Exército Brasileiro. A complexidade de todas as ações descritas para a implantação da nova plataforma contribuiu para que fosse concebida a Diretriz de Implantação do Projeto Viatura Blindada de Combate Obus Autopropulsada (VBCOAP) M109 A5+ BR, aprovada por meio da Portaria Nº 131- EME, de 22 de junho de 2015 e publicada no Boletim do Exército Nr 26.
Dentre os objetivos gerais do Projeto, destacam-se o de aumentar a já estabelecida frota de obuseiros calibre 155 mm M109, padronizando este modelo como a Viatura Blindada de Combate Obus Autopropulsada do EB e possibilitar o início do processo de desfazimento e/ou reutilização dos obuses M108, armamento de projeto antigo (início da década de 1960) e calibre em desuso para a Artilharia Autopropulsada¹ . Os objetivos gerais do Projeto desmembram-se em dezenove outros objetivos específicos, que guardam semelhança com a implantação das VBCCC Leopard 1A5 BR.
Destacam-se: as propostas de mudanças do QO dos GAC; as adequações das instalações das OM envolvidas no projeto; a adequação do sistema logístico do EB para atender os novos MEM; a aquisição de documentação do sistema VBCOAP M109 A5+ BR e a tradução para o português; a qualificação de Recursos Humanos (RH) para o emprego e manutenção das VBCOAP M109 A5+BR; a aquisição de simuladores e de suprimento sobressalente para três anos de emprego e a contratação de suporte técnico durante o primeiro ano de uso.
A respeito da qualificação de RH, de vital interesse a todos os envolvidos, a diretriz determina:
– A criação e/ou adaptação de cursos e estágios gerais já existentes;
– A fim de facilitar o aprendizado, os cursos e estágios nos EUA serão acompanhados por intérpretes designados ou contratados pelo EB;
– O C I Bld realizará os cursos de operação e de manutenção com o apoio das OM detentoras das VBCOAP M109 A5+ BR e OM Log Mnt;
– Ressalvada a legislação referente ao plano de carreira, o período de aplicação dos conhecimentos adquiridos em cursos e estágios realizados no exterior e no Centro de Instrução de Blindados será de, no mínimo, 5 (cinco) anos nas OM envolvidas no Projeto, contados após a data de conclusão dos cursos e estágios.
“Na atual doutrina, a Artilharia de Campanha tem por missão apoiar a força pelo fogo, destruindo ou neutralizando os alvos que ameacem o êxito da operação.[…] No combate moderno, em situação de conflito no amplo espectro, os novos desafios para a Artilharia são executar fogos cada vez mais precisos e rápidos, evitando-se danos colaterais indesejáveis e fogos de contrabateria inimigos² .”
Por fim, é com base nessas duas premissas que a Artilharia de Campanha inicia mais um exitoso momento de modernidade. Não resta dúvida de que a inclusão do M109 A5 + BR à frota blindada contribuirá sobremaneira para Geração das Capacidades necessárias para o Exército da Era do Conhecimento.
Nota da Redação : O Autor Alex Alexandre de Mesquita é Tenente-Coronel da Arma de Cavalaria e Comandante do Centro de Instrução de Blindados e o co-autor Tiago Alvez Ebling é 1º Tenente e instrutor do CIBld
Notas : (¹) Extraído da Diretriz; (²) BE nº 26, de 26 de junho de 2015. P. 23