Por : Alex Alexandre de Mesquita e Saulo dos Santos Marques
Ante a necessidade de acompanhar e se antecipar à evolução dos conflitos na chamada Era do Conhecimento, o Exército Brasileiro editou as Bases para Transformação da Doutrina Militar Terrestre, determinando capacidades e competências adequadas ao efeito desejado para o Exército do Futuro. Decorrente desse paradigma doutrinário, surgiram as Funções de Combate, conjunto de atividades, tarefas e sistemas inter-relacionados, que são o âmago dos denominados Elementos do Poder de Combate de uma força em situação de Guerra ou Não Guerra.
Dentre as funções de combate, destaca-se o Movimento e Manobra, conjunto de atividades, tarefas e sistemas afins, que objetiva posicionar as forças em situação vantajosa sobre forças inimigas. Enquanto o Movimento busca um coordenado deslocamento para cumprir uma missão, sem previsão de interferência adversa, a Manobra visa o deslocamento para posicionamento de maneira vantajosa em contato, ou previsão, de força oponente.
A rapidez do Movimento e a continuidade da Manobra diminuem o tempo de reação da força adversa e, com isso, a efetividade de suas ações, negando-lhe a iniciativa e a surpresa. É a função de combate M2 que determina ritmo e caráter específicos de cada operação militar. Alinhado à Transformação do Exército, foi criada a Infantaria Mecanizada, sobressaindo de importância a velocidade nos deslocamentos por estrada, o bom rendimento através campo e a adequada capacidade de transposição de obstáculos, permitindo a surpresa em manobras rápidas e flexíveis.
Neste contexto, o apoio da Engenharia amplia a capacidade de Movimento e de Manobra das forças, facilitando ou garantindo a mobilidade, seja transpondo barreiras, obstáculos ou áreas minadas; seja construindo ou instalando meios para transposição; ou destruindo obstáculos. Além, é claro, de oferecer proteção à força, a contra mobilidade ao oponente e atuar na logística em diversas atividades.
Na intenção de oferecer esse apoio, a aquisição das VBCCC Leopard 1A5 BR exigiu a adição de meios adequados às unidades de Engenharia, frente às novas demandas das frações apoiadas, isto ocorreu por meio das viaturas especiais (Viatura Blindada de Combate de Engenharia e Viatura Blindada Especial Lança Ponte Leopard 1 BR). Surge, agora, a necessidade de prover unidades de Engenharia Mecanizada com meios capazes de realizar trabalhos adequados, que acompanhem rápidos deslocamentos de elementos empregados em primeiro escalão.
Frente às características de cada equipamento, algumas plataformas podem limitar a adequada funcionalidade dos mesmos. Para apoio à mobilidade da Brigada Stryker, o Exército Norte-americano adquiriu um sistema lançador de ponte, denominado REBS (Rapid Emplaced Bridge System). Devido ao peso da ponte, o equipamento é adaptado nas viaturas 8×8 de engenharia Stryker. Esse sistema permite a transposição de viaturas de classe 50, o que é adequado às necessidades daquela brigada, tendo em vista que não possui viaturas mecanizadas de maior classe.
Outra viatura de importância para a Engenharia Mecanizada é a destinada à abertura de campo de minas. Os EUA utilizam o MICLIC, rebocado pela viatura MRAP, que é 4×4, dotada também de um sistema removível denominado SPARK II, que consiste em um par de rolos localizados na parte frontal, para proteçãocontraminas. Porém, o MICLIC pode ser um meio pouco eficiente para abertura de campo de minas, devido ao solo nacional ser muito compacto.
Por outro lado, a viatura alemã Keiler possui um sistema mais adequado, embora, embora seja sobre lagarta. Os EUA possuem o RG 33 IED MRAP MMPV 6×6, para detecção e neutralização de dispositivos explosivos improvisados, conhecidos internacionalmente pela sigla IED (Improvised Explosive Device). Essa viatura, com auxílio do seu braço mecânico, confirma a natureza de um possível IED, revirando o suposto local para identificação do mesmo.
Para fazer frente às ameaças de IED, a Espanha adquiriu veículos de diferentes plataformas e finalidades, como: detecção (viatura 4×4 Husky com radar); destruição de minas e investigação de artefatos (veículo 4×4 RG-31 com braço articulado e sistema de rolos acoplado); e um robô sobre esteira, para desativação (TEODOR – Telerob Explosive Ordance Disposal Observation Robot).
Hoje, a Tropa Mecanizada brasileira utiliza meios para transposição de obstáculos, naturais ou artificiais, que exigem: emprego de grande efetivo, excessivo tempo para montagem ou realização de desobstrução e exposição exagerada aos fogos inimigos. Esses meios não são obsoletos nem descartáveis, mas carecem de maiores capacidades para apoiarem as forças empregadas em primeiro escalão. Como mencionado, existe uma gama de meios de Engenharia para os mais variados tipos de apoio.
Meios adequados proporcionam um leque de opções para a tomada de decisão dos comandantes, nos mais variados escalões, para o Movimento e a Manobra em velocidade adequada, com proteção suficiente. A falta de meios, por outro lado, determina o reduzido valor do fator multiplicador de combate e, com isso, o limite do emprego da força no campo de batalha. A Infantaria Mecanizada e a Cavalaria Mecanizada estão se beneficiando do processo de transformação por meio da inclusão do Guarani em suas diversas e futuras versões.
Contudo, sem um adequado elemento de apoio ao Movimento e à Manobra, toda a capacidade desta Função de Combate, decisora do conflito terrestre, poderá estar comprometida. É importante lembrar que até a inclusão das VBCCC Leopard 1A5 BR a Engenharia ainda cumpria a sua missão sem os meios mais adequados e, agora, com as viaturas da família Leopard, experimenta uma nova fase na execução da sua missão.
Importante, então, pensar desde já em uma plataforma adequada à missão da Infantaria Mecanizada e da modernizada Cavalaria Mecanizada, de modo que toda a Função de Combate Movimento e Manobra encontre o equilíbrio necessário ao cumprimento de sua missão.
AÇO, BOINA PRETA, BRASIL!
Nota da Redação : O Autor Alex Alexandre de Mesquita, é Tenente Coronel da Arma de Cavalaria e Comandante do Centro de Instrução de Blindados, e o co autor Saulo dos Santos Marques é Capitão da Arma de Engenharia e Instrutor do CIBld.