O cenário é inóspito. O deserto do Atacama, no Norte do Chile, é o local mais seco do mundo. É quase impossível ver uma árvore: quando tem, dá para perceber que foi plantada e tem uma irrigação forte. É mais fácil, na verdade, ver um SOLMÁFARO, um indicador de radiação ultra-violeta do sol. E é difícil ver em algum nível abaixo do “Peligroso”, viu?
Ok, e o que tem o tal deserto?
É que no meio desse mar de areia localizado entre a Cordilheira dos Andes e o Oceano Pacífico acontece o exercício SALITRE, que conta com a participação de 73 militares e cinco aviões da Força Aérea Brasileira. Esse pessoal foi para o Chile com uma única intenção: treinar missões de guerra aérea.
Além dos chilenos, com seus caças F-16 e F-5, também participam a Argentina, os Estados Unidos e o Uruguai. Eles voam, respectivamente, os caças A-4AR Fightinghawk, F-16 Fighting Falcon e A-37 Dragonfly. A FAB está com quatro F-5EM, modernizados, e um reabastecedor em voo KC-130 Hércules. Ah! Os chilenos e norte-americanos (ou estadosunidenses, como se fala por aqui) também levaram seus KC-135, outro tipo de avião-tanque.
Quando tem um exercício como esse, a grande maioria das pessoas tem uma pergunta direta: – QUEM GANHOU? A resposta não é lá o que se espera ouvir: “Na verdade, todos ganharam”. Mas dá para explicar.
O fato é que todos os aviões já tiveram seu dia de “caça” e seu dia de “caçador”. Afinal, é para isso que servem os exercícios! A quantidade de voos ajuda: só os F-5 brasileiros fizeram mais de 30 missões, com missões pela manhã e à tarde. Dá para treinar bastante.
Mas o real foco da Salitre é a coordenação das missões. Na verdade, só 12 caças chilenos fazem o papel da “Força Inimiga”, operando a partir da cidade de Iquique. Em Antofagasta, ficam baseadas as aeronaves de todos os países (inclusive outros F-16 chilenos).
Todos os dias, mais de 20 aviões decolam em poucos minutos. Os A-4 e A-37 vão atacar alvos simulados no solo enquanto que os F-16 “vermelhos” tentam impedir isso. Mas para isso eles têm que enfrentar a escolta de F-16 e F-5.
Acontece que cumprir uma missão com mais de 20 aviões não é coisa fácil. O tempo de planejamento é grande. Para que todo mundo fale a mesma língua, tudo segue o padrão da Organização do Tratado do Atlântico Norte, a OTAN. Falando em língua, a Salitre acontece em inglês. Até quando um piloto argentino precisa falar com um uruguaio, por exemplo, ao invés deles falarem espanhol (língua nativa de ambos), a conversa é em inglês.
Sabe por que isso é importante?
Lembra que o Brasil também participa com um avião-tanque KC-130? Pois é: além de reabastecer os F-5EM brasileiros, o KC-130 também transferiu combustível em voo para os A-4AR argentinos. Essa padronização de procedimentos permite isso: se for necessário, pilotos de vários países estão prontos para voarem juntos diversas missões.
É essa ideia de exercícios como a Salitre, já na sua terceira edição, ou da CRUZEX, realizada no Brasil.
Esse grande treinamento terminou ontem (17/10). E uma coisa a gente pode ter certeza: nesse deserto frio e seco, do outro lado da Cordilheira dos Andes, durante duas semanas a FAB se tornou ainda mais capacitada a cumprir sua missão.
FONTE : Força Aérea Blog