A fumaça branca voltou a rabiscar o céu azul do Brasil. Após 27 meses sem apresentações públicas, o Esquadrão de Demonstração Aérea (EDA) da Força Aérea Brasileira (FAB), a popular Esquadrilha da Fumaça, reiniciou seus shows em julho. Em 11 e 12 de julho, durante a 18ª Feira Internacional de Aviação em Maringá, no Paraná, as duas exibições da Fumaça atraíram cerca de 10.000 espectadores.
No entanto, no domingo, 23 de agosto, o público impressionou: mais de 90.000 pessoas assistiram ao show, durante o evento “Domingo Aéreo” na Academia da Força Aérea (AFA), o “Ninho das Águias”, em Pirassununga, São Paulo. “A admiração das pessoas é nítida depois das demonstrações aéreas”, disse o Tenente-Coronel Marcelo Gobett Cardoso, comandante do EDA. “Assim que saímos das aeronaves, já recebemos o carinho do público que nos aguarda com sorriso no rosto e aplausos.”
A Esquadrilha da Fumaça e os Super Tucanos
A Esquadrilha da Fumaça interrompeu as exibições em março de 2013 porque recebeu uma frota de aviões A-29 Super Tucano, em substituição ao Tucano T-27, utilizado durante 30 anos. O trabalho de adaptação operacional e logística do novo avião – mais moderno e mais potente – foi intenso e exigiu muita capacitação e treinamento. Somente de missões de perfil acrobático foram realizadas 765.
O novo avião tem o dobro da potência, voa mais rápido, mais alto e tem uma autonomia de voo muito maior. Fabricado pela Empresa Brasileira de Aeronáutica S.A (Embraer), o Super Tucano é um avião turboélice de ataque leve, concebido para missões de defesa aérea, escolta, patrulha aérea de combate e formação de líderes da aviação de caça. É muito usado pela FAB na vigilância das regiões de fronteira.
Para ser utilizado pelo EDA, o Super Tucano sofreu algumas adaptações. Por exemplo, nas asas, onde antes eram armazenados os cartuchos de munição, foram instalados os tanques de óleo de fumaça. Fumaça, aliás, que agora é ecologicamente correta. Para produzir fumaça, o avião utiliza um óleo cuja queima não agride a camada de ozônio, nem contribui com o aquecimento global. O novo óleo também deixou a fumaça mais densa e com maior duração de tempo no ar. As letras podem ser vistas a uma altura de, aproximadamente, 10.000 pés, o equivalente a 3.000 metros.
O visual das aeronaves da Esquadrilha foi modernizado. As cores da Bandeira do Brasil (verde, amarelo, azul e branco) continuam a compor a pintura, mas com tonalidades mais fortes e marcantes para facilitar a visualização das manobras. Outra inovação é o desenho da Bandeira Nacional na cauda do avião: quando o leme é movimentado, passa a impressão de que o Pavilhão tremula com o vento.
Sete pilotos em sete aeronaves numeradas fazem o show aéreo. O Líder é o 1, no caso o Tenente-Coronel Aviador Marcelo Gobett Cardoso, comandante do EDA. Ele é o maestro da equipe: canta a manobra e determina o momento da execução. Cada posição de vôo – Ala Direita (2), Ala Esquerda (3), Ferrolho (4), Ala Esquerda Externa (5) e Ala Direita Externa (6) – tem uma função específica. As manobras são realizadas tanto com os sete aviões, quanto com quatro, três e até com um avião, o Isolado (7). Um oitavo piloto fica em solo realizando a locução. As missões também podem contar com avião de apoio para o transporte de equipe e material. A demonstração tem duração de 35 minutos e conta com cerca de 50 acrobacias.
Promovendo a imagem da Força Aérea Brasileira
A missão prioritária da Esquadrilha da Fumaça é difundir a imagem institucional da FAB, mas as apresentações exercem tanto fascínio, que acabam influenciando o futuro de muitos jovens. “Desde crianças a idosos, todos querem se aproximar, conversar conosco, tirar fotos e mostrar a admiração pela Força Aérea Brasileira”, diz o Ten Cel Gobett. “Isso é muito gratificante para toda a equipe.
E muitos admiram tanto que logo se interessam em seguir a carreira militar. Essa é a melhor oportunidade que temos de entregar nosso material institucional e interagir com o público. Podemos observar também que é claramente cumprida uma de nossas principais atribuições, que consiste em estimular e desenvolver a vocação e a mentalidade aeronáuticas.”
A Esquadrilha da Fumaça promove a imagem da FAB e encanta o público desde 1952, quando se apresentou oficialmente pela primeira vez. Desde então, realizou 3.700 exibições aéreas no Brasil e 21 em outros países, sendo o segundo Esquadrão de Demonstração Aérea mais antigo do mundo. Perde apenas para os “Blue Angels”, da Marinha dos Estados Unidos.
Os pilotos da Esquadrilha da Fumaça – os Fumaceiros – são ases da aviação. A perícia com que executam as acrobacias empolga e emociona o público de todas as idades. Os aviões voam de cabeça para baixo, dão cambalhotas, fazem piruetas, deitam e rolam no céu. Todas as acrobacias são muito festejadas, mas normalmente a plateia vibra mais com a Lancevaque e a Chumbóide, acrobacia em que o Super Tucano sobe na vertical e, de repente, começa a cair em espiral, de bico para baixo.
“Para o público, traz a impressão de que o avião está descontrolado, mas o piloto tem total controle sobre a aeronave, podendo retornar ao voo normal a qualquer momento”, explica o Ten Cel Gobett. Quando aterrissam, os pilotos são tratados como celebridades pelas pessoas. “Eles entregam o material institucional da Esquadrilha da Fumaça, dão autógrafos e tiram fotos com os fãs”, diz a Seção de Comunicação Social do Esquadrão de Demonstração Aérea.
O show é gratuito, mas o Esquadrão da Fumaça sugere que o público doe alimentos não perecíveis, que são distribuídos às instituições de caridade. No primeiro evento que marcou a volta do esquadrão, por exemplo, 2,5 toneladas de comida foram coletadas no Paraná.
Pilotos habilidosos
Para ser piloto da Fumaça, é preciso ser Oficial Aviador da FAB e ter 1.500 horas de voo, sendo 800 delas como instrutor da Academia da Força Aérea (AFA) ou do Esquadrão Joker (Segundo Esquadrão do Quinto Grupo de Aviação – 2º/5º GAV – formador dos pilotos de bombardeio). Por meio de Conselho Operacional do EDA, são escolhidos os candidatos mais qualificados e que apresentam perfil mais compatível à missão da Fumaça.
Depois de ingressar na equipe, o piloto inicia o treinamento para voar em sua posição. São aproximadamente 80 missões de uma hora, que duram de dois a três meses. Após a estréia, todos os pilotos realizam treinamentos regulares. A Esquadrilha da Fumaça é formada por treze oficiais aviadores, um especialista em aviões, um médico, três oficiais de Comunicação Social, e uma equipe de graduados especialistas, divididos na área administrativa e de manutenção de aeronaves – conhecidos carinhosamente por “Anjos da Guarda”. Os soldados completam o time, colaborando na rotina diária.
A agenda de exibições é definida pelo Centro de Comunicação Social da Aeronáutica (CECOMSAER), mediante solicitação com antecedência de, no mínimo, quatro meses. “Eles analisam diversos fatores, como: importância do evento no cenário nacional/internacional, infraestrutura do local e público estimado durante a apresentação, entre outros requisitos”, diz a Seção de Comunicação Social do EDA, referindo-se ao CECOMSAER.
FONTE: Blog Diálogo(Por Wilson Aquino)