por Eric R. Lucero – RP do Exército dos EUA
O sombrio silvo de um morteiro rompe o silêncio e os inconfundíveis ruídos das bombas que se aproximam aumentam o clima de caos no local.
Para um veterano, a experiência em combate e os anos de treinamento para se acostumar com as visões e sons da batalha podem possibilitar que esse militar atue em seu desempenho máximo. No entanto, um único som tem a capacidade de desestabilizar os nervos e inspirar medo até mesmo nos soldados mais experientes.
“Médico!” Em meio ao caos, uma voz alerta que houve uma baixa. Na mesma hora, sem sequer pensar em sua própria segurança, o médico vai em direção ao seu irmão de guerra ferido para socorrê-lo. É chegada a hora de colocar todos os anos de treinamento e experiência em prática.É a hora de salvar uma vida.
Foi com esse cenário em mente que o Exército dos Estados Unidos (US Army) realizou o curso tático de paramédicos em combate no intercâmbio de especialistas com as Forças Armadas do Paraguai. O curso foi dividido em duas etapas, com duração de duas semanas cada: uma voltada a instruções sobre atendimento tático a vítimas de combate e outra sobre a retirada de vítimas sob fogo cruzado.
O Paraguai enviou mais de 80 soldados das forças especiais e membros da Secretaria Nacional Antidrogas (departamento de narcóticos da Polícia Nacional do Paraguai) para aproveitar o conhecimento dos médicos norte-americanos adquirido em suas experiências no Iraque e Afeganistão.
“Eles estão cumprindo uma série de missões reais no momento, e esse treinamento vai ajudar muito as forças paraguaias a salvar vidas e manter uma força preparada para o combate”, afirmou o Primeiro-Sargento Efrain Perez, responsável pelas operações e planos e subchefe do Estado-Maior para medicina do Exército.
Com frequência, as Forças Armadas e de Segurança do Paraguai realizam operações contra organizações de guerrilheiros, como o Exército do Povo Paraguaio, grupo de rebeldes que atua nas áreas mais afastadas do país, ou contra cartéis de drogas. Em uma batalha contra inimigos que pode ser fatal, os paraguaios esperam que o conhecimento sobre atendimento médico em combate adquirido no intercâmbio possa ser a diferença entre a vida e a morte.
Cada aula, com duração de duas semanas, começam com instruções em sala, detalhando habilidades, como verificar se a vítima apresenta ferimentos, tratar o choque, aplicar torniquetes e administrar medicamentos por via intravenosa. Posteriormente, os alunos tinham a tarefa de aplicar esse conhecimento na prática, em uma simulação de combate armado.
“Os soldados que estão sendo treinados nesse intercâmbio são companheiros de equipe”, declarou Pablo Solis, Primeiro-Tenente do Batalhão Conjunto de Forças Especiais do Paraguai.“Em uma equipe, a confiança é fundamental. As informações que eles aprenderam nessas aulas possibilitarão que nossos soldados atuem com total confiança na capacidade dos outros de prestar um bom atendimento médico em caso de vítimas durante as operações.”
Divididos em equipes pequenas, com cinco membros, foi solicitado que cada grupo atacasse o inimigo, fosse em direção a uma vítima simulada, avaliasse o soldado ferido e o retirasse sob fogo cruzado.
Para fazer o treinamento parecer ainda mais real, a Força Aérea paraguaia concordou em participar do intercâmbio, realizando o resgate aeromédico com um helicóptero UH-1 Huey.Os médicos a bordo da aeronave com a vítima simulada tiveram a tarefa de proteger o soldado ferido e implantar um cateter venoso, tudo isso dentro do helicóptero em voo.
Nessas situações, segundos podem salvar vidas. A medida que as equipes realizavam as tarefas dos testes, a confiança aumentou e suas ações passaram a ser menos sobre tentar resolver um novo problema e mais sobre memória muscular.
A cada ano, o Exército dos EUA realizam diversos intercâmbios de especialistas em medicina com as forças de diversos países parceiros da área de responsabilidade do Comando. Esses intercâmbios possibilitam que os exércitos criem uma grande admiração entre si e desenvolvam práticas coesas, que permitam uma transição uniforme caso seja necessário criar uma coalizão internacional.
“É importante realizar intercâmbios como esse para manter nosso relacionamento com o Paraguai e, ao mesmo tempo, passar informações que podem fazer uma grande diferença para os dois países”, declarou Perez.
“Os novos desafios mundiais exigem ações combinadas de forças diferentes, de países diferentes”, afirmou Solis. “Esse intercâmbio nos dá a oportunidade de aprender uns com os outros, para que possamos fazer um bom trabalho conjunto no futuro.”