Dentre as várias atrações que compõem o Museu Histórico do Exército, uma chama atenção pela sua importância na recente História do Brasil: o Forte de Copacabana. Para entendermos os motivos que levaram à sua construção, devemos inicialmente tentar compreeder que esta fortificação constitui uma parte de um todo, o qual denominamos de “sistema defensivo da cidade do Rio de Janeiro”, mais precisamente da Baía de Guanabara, que encerra em seu interior um porto, o qual, ao longo dos séculos, cresceu em importância, devido ao crescente comércio da cidade.
Local propício para abrigar um porto e, por sua vez, uma importante cidade, a Baía da Guanabara foi palco do estabelecimento de fortificações desde o ano de 1555, quando da aventura da colonização francesa de Villegaignon. A partir daí, a região ganhou importância, sendo retomada pêlos portugueses, que nela fundaram a cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro. Ao longo do tempo, sua notoriedade cresceria, levando-a ao status de capital da Colônia e atraindo a cobiça dos inimigos da Coroa Portuguesa.
Portanto, desde a sua fundação, a cidade do Rio de Janeiro necessitou de pontos defensivos, a fim de garantir a integridade de seu porto, importante local de comércio e de comunicação com o mundo exterior. Tal situação não mudou muito até o início do século XX.
O início da construção do Forte de Copacabana, em 1908, ocorreu durante um momento conjuntural propício para a construção de grandes unidades militares. A chamada “reforma do Exército” começou ainda no final do século XIX, mais precisamente no término do governo de Floriano Peixoto.
A situação do Exército era, de maneira geral, de estagnação. O reaparelhamento mostrava-se necessário, assim como o adestramento da tropa e a modernização das fortalezas. Neste contexto, duas figuras destacaram-se dentre as demais no Exército Brasileiro: os Ministros da Guerra, General João Nepomuceno de Medeiros Mallet e o Marechal Hermes da Fonseca.
O MINISTRO MALLET
O General Nepomuceno Mallet é considerado o precursor das reformas do Exército que se realizaram em 1908, tendo elaborado diversos planos e relatórios, envidando esforços para a modernização da Força Terrestre. Assumiu a Pasta da Guerra com a posse de Campos Sales, a 15 de novembro de 1898, e logo demonstrou sua preocupação, em seu relatório de 1901, com as modificações a serem procedidas no Exército, principalmente no tocante às defesas costeiras.
A situação econômica do País não era das melhores. Os primeiros anos da República caracterizaram-se por uma crise financeira, cuja recuperação só foi possível devido à política austera de Campos Sales. Assim, apesar da visão que tinha Mallet, suas idéias não puderam ser postas em prática, pelo menos aquelas de grande monta, tendo em vista a falta de recursos.
HERMES DA FONSECA
O Marechal Hermes da Fonseca, ao assumir a Pasta da Guerra ao final de 1906, quando foi convidado por Afonso Pena, encontrou o mesmo quadro de estagnação no Exército, mas com uma situação financeira bem diferente. Graças ao esforço do Governo, a economia do País havia melhorado, gerando capital excedente que poderia ser utilizado em obras públicas, melhoria da rede de transportes e, até mesmo, na defesa nacional.
O Marechal Hermes da Fonseca fez transmitir suas idéias ao Governo através de um detalhado relatório. Nele ficava evidente que o Marechal Hermes preocupava-se também com as defesas das fronteiras e com a situação das fortalezas que protegiam essas regiões. Se
considerarmos que o oceano é uma fronteira natural, as defesas costeiras também necessitavam de um reaparelhamento considerável, no que tange às fortificações e ao material bélico nelas empregado.Assim foram concebidos os planos para a construção do Forte de Copacabana.
Deve-se também ao Marechal Hermes da Fonseca o estreitamento dos laços econômicos e bélicos com os alemães. O Marechal deu continuidade à compra de canhões da Casa Krupp, já prevista pelo Ministro Mallet, cuja qualidade era reconhecida no mundo inteiro.
As fortificações do sistema defensivo da Baía de Guanabara receberam tal equipamento, tendo algumas delas, como o Forte do Imbuí e o Forte de Copacabana sido remodeladas, caso do primeiro, ou construídas, caso do segundo, com a finalidade específica de receber os canhões.
A CONSTRUÇÃO DO FORTE DE COPACABANA (1908-1914)
O local escolhido para a construção do Forte de Copacabana não se deveu ao acaso. O chamado promontório da Igrejinha – no local existia a Igreja de Nossa Senhora de Copacabana, ou Socopenapan como chamavam os indígenas – consistia numa região cujos rochedos avançavam contra o mar na direção da entrada da Baía de Guanabara, sendo, portanto o ideal para posicionar canhões de longo alcance que evitassem a aproximação de belonaves que porventura ameaçassem a Capital Federal.
Foi nomeada uma comissão com cinco militares em 1907, tendo o Major Luiz Eugênio Franco Filho, adjunto da Direção de Engenharia, designado para dirigir a construção do Forte de Copacabana. Tal Comissão iniciou, então, os trabalhos buscando realizar a locação do Forte, demarcando no terreno uma linha que servisse de diretriz às operações, traçando os eixos para a referência das coordenadas dos pontos principais da obra, demarcando o perímetro do Forte e assinalando as cúpulas e torres. iniciou-se uma corrida contra o tempo, tendo em vista que o Marechal Hermes da Fonseca, então Ministro da Guerra, ordenou o lançamento da pedra fundamental para 31 de dezembro.
As dificuldades foram imensas, devido ao pessoal e material reduzidos, a fim de realizar a abertura de uma cavidade na rocha para receber a pedra, que posteriormente seria preparada, recebendo uma caixa formada de um só bloco de cantaria, além do reparo e alargamento da estrada e caminhos de acesso para o local.
No dia 5 de Janeiro de 1908 ocorreu a cerimônia do lnçamento da Pedra Fundamental. Lançada a Pedra Fundamental, os trabalhos foram retomados. Diante da tecnologia existente na época podemos imaginar as dificuldades encontradas pela Comissão para preparar o terreno, dando-lhe o contorno necessário às futuras instalações. Além disso, a aquisição de material também exigiu cuidados e estudos, a fim de combinar o melhor disponível, com as possibilidades geográficas.
Aliás, a aquisição de material no exterior, constituiu uma fonte de atraso para a marcha do serviço, uma vez que o material demorava muito a chegar. Além disso, havia sérias dificuldades no desembarque do material, prejudicado pela variação das marés e pelas ressacas que assolavam o litoral carioca, gerando, inclusive, perda de material que caiu no mar. Entretanto, tal situação não gerou ônus para o Erário, uma vez que os fornecedores repuseram o material sem cobrar nada.
Teve início, então a segunda fase, cujo desafio foi o de adaptar o terreno rochoso às instalações e máquinas, a fim de que se pudesse trabalhar o terreno com máxima eficiência. Tal período foi relativamente curto e sem muitos fatos que valessem a pena relatar. A terceira fase teve seu início em janeiro de 1909, quando o forte começou a ser erguido com o movimento de terra, corte de pedra e aplainamento da rocha para elevação do maciço de concreto, com o fabrico de tijolos (…) britagem de pedra e outros serviços.
Entre os anos de 1910 e 1911 toda a área tomou os contornos definitivos da construção do Forte. A rocha foi reconstituída, permitindo a completa simbiose entre a construção humana e a da natureza.
No ano de 1912, a fortificação começou a tomar forma, com as suas muralhas laterais de 12 metros de espessura, com as abóbadas já concluídas, formando o “esqueleto” do forte. Foram executados os trabalhos preliminares de montagem do guindaste de 80 toneladas, o assentamento dos trilhos e construção da ponte de desembarque e do plano inclinado sobre o fosso da obra.
Tiveram início também os trabalhos de montagem do material de artilharia, com o assentamento das torres em eclipse de 75 mm, as quais pesavam cerca de 16 toneladas. Ao contrário das cúpulas de 190 mm e 305 mm, elas vieram da Alemanha em um só volume, quase prontas, faltando-lhes apenas a colocação dos canhões e seus acessórios de manejo.
O desembarque das cúpulas de 75 mm foi realizado pelo guindaste elétrico de 80 toneladas, constituindo a estréia desse engenho. Concluída essa etapa, teve início a montagem das cúpulas de 190mm e 305mm. Para isso, foi construído um guindaste elétrico ainda mais poderoso, de 80 toneladas e com uma porcentagem de 12 a 13% de sobrecarga, a fim de facilitar o desembarque dos volumes remetidos pela Casa Krupp.
A operação de desembarque destas cúpulas mostrou-se extremamente delicada face ao grande peso de cada uma, e também devido ao estado do mar no local, geralmente com ondas fortes, não permitindo qualquer atracação de embarcações. Em 1913, todo o material de artilharia encontrava-se em condições de funcionamento.
Houve também a continuidade da betonagem da cobertura, a montagem do material bélico restante, de toda a maquinaria acessória e demais instalações do interior da fortificação. Finalmente, em 1914, ocorreu o fim da betonagem; com a cobertura final; funcionamento efetivo do maquinário e das peças de artilharia, tendo o gasto total da obra atingido a cifra de 2:853:616$585 réis.
Estava concluída a mais poderosa fortificação da América do Sul. Inaugurada em 28 de setembro de 1914, com a presença do Marechal Hermes da Fonseca, Presidente da República e demais representantes da Nação, como pode ser comprovado pela Ata de Inauguração do Forte de Copacabana, a qual foi assinada por todos que participaram da cerimônia, que teve seu início às 14 horas.
Inicialmente, o Forte de Copacabana foi guarnecido pela 6ª Bateria Independente de Artilharia de Posição, a qual foi transferida de Santa Catarina para o Rio de Janeiro, tendo como Comandante o Major Marcos Pradel de Azambuja.
Fonte: Capitão Rogério Armada, Historiador do Museu Histórico do Exército e Forte de Copacabana
Nota do Editor : Gostaria de agradecer a pronta resposta da assessoria de imprensa do Forte de Copacabana, na forma de ceder mais dados e fotos que contribuíram na montagem desta matéria.