Os passos firmes, a lucidez e a memória clara dos fatos que aconteceram durante a vida escondem a verdadeira idade do capitão Benedito Monteiro. Aos 101 anos, completados no dia 30 de agosto, ele é o militar mais velho a participar da Revolução Constitucionalista de 1932. O posto foi herdado no mês de junho após a morte do tenente Nelson de Paula, aos 102 anos.
Monteiro foi homenageado no último dia 29 na Câmara de Tremembé, município onde vive. Na cerimônia, o ex-combatente recebeu homenagens da Polícia Militar, corporação em que foi capitão. Dos tempos de militar ele se lembra de tudo. Desde quando se alistou no Exército, ainda com 17 anos, com a autorização da mãe, até o começo das batalhas na revolução de 1932. Monteiro afirma que estava em Pindamonhangaba quando foi convocado para a luta armada, mesmo sem concordar com o confronto entre as tropas paulistas e os governistas.
“Eu passei a lutar contra os meus companheiros de farda. Eu dava tiro sem compromisso de acertar ninguém. Não era uma farsa, mas era uma maneira de proteger meus companheiros de farda”, explicou. Durante os quase três meses de batalha, Monteiro esteve em várias cidades na divisa entre São Paulo e Minas Gerais e viu corpos de companheiros paulistas mortos no fronte. “Do meu lado não morreu ninguém porque ficávamos muito longe um do outro, mas quando a gente mudava de lugar sempre via um corpo enterrado pela metade”, disse o capitão Monteiro.
Acordo
Uma das várias histórias curiosas que ainda estão na memória de Monteiro aconteceu em uma fazenda em Guaratinguetá. O capitão explica que estava em uma trincheira quando a comida que levava com ele tinha acabado e a única maneira de matar a fome naquele momento era com a cana de açúcar de um canavial próximo dali. “Quando fui pegar um pedaço de cana vi um militar do Getúlio. Nós pegamos na arma e combinamos de cada um ir para um lado e depois atirar. Acabei ficando sem cana e com fome”, lembra.
Violão e artesanato
Após o conflito, Monteiro chegou a ser detido pela tropa governista em Pinda. Depois de quatro dias, conseguiu fugir e voltar para casa. Em 1936, Monteiro entrou para a PM e se aposentou em 1959, entrando para a reserva. Desde então, se dedica ao artesanato com madeira e à música. Violonista clássico, ele já gravou dois CDs. Todos os dias, Monteiro levanta às 7h e vai para a oficina que fica nos fundos da casa onde mora, em Tremembé. Lá ele se dedica às esculturas de madeira. São igrejas, carros de boi e rodas d’água. “Não faço para vender, faço para manter as tradições”, disse o ex-combatente de 101 anos.
FONTE: O Vale (Por Bruno Castilho)