A tomada de Monte Castelo, pelos pracinhas que compuseram a Força Expedicionária Brasileira (FEB), completará 70 anos no próximo dia 21. Naquele dia os brasileiros escreveram uma página épica da história militar do País. Enfrentaram uma defesa alemã composta de soldados reconhecidos pela eficácia profissional.
E mesmo assim avançaram, derrotaram os germânicos e no final da tarde daquele dia consolidaram a vitória atingindo o cume do Monte Castelo. A conquista tinha um objetivo estratégico no plano das tropas Aliadas de abrir caminho entre as defesas alemãs, bem postadas numa região montanhosa e de difícil acesso. Monte Castelo estava localizado a 61,3 quilômetros a sudoeste de Bolonha.
Comandada pelo general Mascarenhas de Moraes, a FEB disparou o primeiro tiro em 16 de setembro de 1944 durante a conquista de Camiore, perto da cidade de Lucca. Seguiram-se as tomadas de duas outras localidades, Massarosa e Monte Plano. E ainda precisavam tomar Monte Castelo. A missão era necessária para abrir passagem para que as tropas do comando aliado chegassem a Bolonha.
Monte Castelo era um ponto estratégico na chamada Linha Gótica, um conjunto de fortificações alemãs numa extensão de 280 quilômetros. Os pontos altos dessa região, dominados pelos alemães, ofereciam defesa eficaz. As dificuldades geográficas inviabilizavam o uso de blindados por parte das tropas aliadas.
Por duas vezes, uma em 24 de novembro de 1944, e outra, cinco dias depois, contingentes envolvendo a FEB e tropas americanas tentaram tomar Monte Castelo. E foram repelidos pelos alemães. Houve uma terceira tentativa, em 12 de dezembro. Era um dia de inverno rigoroso. As temperaturas eram baixas. Chovia. As montanhas da região estavam cobertas de neve. E ainda havia o tradicional profissionalismo dos alemães em combate. Diante desses fatores, também desta vez o ataque da FEB e de tropas americanas foi repelido.
O ataque final aconteceu em 21 de fevereiro de 1945. Um planejamento ambicioso dos Aliados, denominado Plano Encore, envolveu unidades brasileiras, americanas e britânicas. Coube à FEB a missão de tomar Monte Castelo, e desta vez os pracinhas brasileiros conquistaram a vitória. No mesmo dia, os americanos tomaram os montes Della Torracia e Belvedere.
O ataque começou logo às primeiras horas do dia 21 de fevereiro. Os pracinhas se distribuíram em três batalhões: o Uzeda seguiu pela direita do Monte, o Franklin na direção frontal e o Sizeno Sarmento aguardou o instante oportuno para se juntar aos outros dois batalhões. Às 17h30, após várias horas de batalha, os pracinhas chegaram ao cume do Monte.
Embora a tomada de Monte Castelo tenha sido a mais importante da FEB, os pracinhas brasileiros computaram outros resultados de destaque. Em abril de 1945, a FEB tomou Montese e Collecchio. Outro registro histórico da FEB ocorreu em 29 de abril de 1945. Pracinhas brasileiros cercaram a 148º Divisão de Infantaria Alemã na localidade de Fornovo di Taro. Esta Divisão, comandada pelo general Otto Freter-Pico, recuava de La Spezia em direção a Milão.
Pelo menos 15 mil soldados e oficiais alemães caíram como prisioneiros da FEB. Depois, em 2 de maio de 1945, os pracinhas brasileiros chegaram a Turim e se juntaram às tropas francesas na cidade de Susa, na fronteira franco-italiana. A guerra chegou ao fim sete dias depois.
Antecedentes
A FEB participou da Segunda Guerra Mundial na Itália com 25 mil homens. Números oficiais indicam que morreram 462 pracinhas, a maioria soldados, sendo cinco pilotos da Força Aérea.
O presidente do Brasil na época da guerra era Getúlio Vargas. O País vivia a ditadura do Estado Novo com Congresso Nacional Fechado, ausência de eleições e um órgão chamado Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP), que mantinha a imprensa rigorosamente censurada.
Getúlio titubeou entre manifestar apoio à Alemanha ou aos Aliados. Havia nas Forças Armadas correntes que admiravam o profissionalismo do exército de Adolf Hitler, mas também outras autoridades apoiavam os Aliados, como o ministro das relações exteriores, Osvaldo Aranha.
Jogo de cena
A neutralidade de Getúlio também era vista como jogo de cena. Ele queria negociar o apoio com expectativa de retorno para o Brasil, principalmente no setor industrial. Tinha planos de construir a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), em Volta Redonda, e para isso o País precisava de crédito e tecnologia.
Uma visita do presidente norte-americano Franklin Delano Roosevelt ao Brasil, em 28 de janeiro de 1943, forçou Getúlio a tomar posição em favor dos Aliados. Naquele dia, os dois presidentes se encontraram em Natal (RN). Getúlio permitiu a instalação de bases americanas no Nordeste e prometeu enviar tropas militares à Europa.
A contrapartida de Roosevelt foi oferecer tecnologia e apoio financeiro para a construção da CSN em Volta Redonda, no Rio. Também prometeu assento do Brasil no Conselho de Segurança da ONU, mas esta promessa não foi cumprida e o País tenta este avanço até hoje. No entanto, Getúlio demorou a providenciar o contingente prometido de soldados brasileiros para serem enviados à Europa.
A demora inspirou um dito popular: “É mais fácil uma cobra fumar cachimbo do que o Brasil participar da Guerra.” A FEB incorporou a piada e adotou uma cobra fumando como emblema.
Ataques no mar
O apoio do Brasil aos Aliados também custou ataques a navios mercantes brasileiros no mar. O general Geraldo Luiz Nery da SIlva, acadêmico emérito da Academia de História Militar Terrestre do Brasil, informa que foram torpedeados 28 navios mercantes e dois da Marinha do Brasil, e o conjunto desses ataques representou 1.032 mortes.
Esses ataques geraram uma teoria da conspiração que insinua que foram os Estados Unidos que afundaram navios brasileiros para forçar Getúlio a apoiar os Aliados. Mas muitos negam essa teoria. Entre os que não acreditam nela e atribuem a autoria dos ataques aos alemães está o professor sorocabano Milton Marinho Martins.
FONTE : Jornal Cruzeiro do Sul