Era um dia cinzento nos Apeninos. Após quatro tentativas os pracinhas brasileiros acostumados com o sol dos trópicos finalmente conseguiram, em meio à nevasca, tomar o Monte Castello, onde os nazistas entrincheirados detinham a vantagem clássica da altura, descrita nos manuais militares.
O jovem tenente Humberto Gerardo Moretzsohn Brandi e seus soldados hasteiam o pavilhão nacional. Era a primeira tropa brasileira e aliada a ocupar e instalar-se na crista do Monte Castello, o 2º. Pelotão da 3ª. Companhia do 1º. Regimento de Infantaria – o histórico e glorioso Regimento Sampaio. Brandi receberia a Cruz de Combate de 1ª.Classe, sendo mais tarde ferido em ação no Monte Belvedere em 12 mar 1945, recebendo a Medalha Sangue do Brasil.
Mas ao contrário da Batalha de Iwo Jima, nenhum fotógrafo brasileiro pôde registrar aquela imagem, que para nós poderia vir a possuir o mesmo capital simbólico daquela tomada por Joe Rosenthal, da Associated Press, mostrando para o mundo os marines fincando sobre o solo vulcânico do Monte Suribachi o pavilhão americano. A foto recebeu o Premio Pullitzer de 1945 e foi reproduzida milhares de vezes, sendo considerada possivelmente a imagem mais vista de todos os tempos, pelo seu significado representativo de uma guerra. A foto foi tirada apenas 2 dias depois da Tomada de Monte Castello.
Quem sabe hoje a FEB não estaria tão esquecida, se uma foto do pavilhão verde-e-amarelo tremulando sobre o fundo branco da neve italiana viesse a representar o sacrifício dos nossos bravos pracinhas, para libertar a Itália do nazi-fascismo.
Páginas gloriosas da História Militar Brasileira, escritas na neve com a marca do precioso sangue dos nossos pracinhas. Neste 21 de fevereiro o Brasil deveria estar lembrando o sacrificio dos seus soldados-cidadãos, gente do povo como qualquer um de nós. Mas lamentávelmente serão outras as noticias a ocupar as páginas dos jornais, e sem nada de glorioso.
71 anos depois, a Humanidade se defronta novamente com as mesmas ameaças do passado. Apenas os ditadores mudaram, mas a intolerância, racismo, xenofobia e fanatismo permanecem, aliados do terrorismo, negacionismo e da inversão de valores éticos e morais. Novamente, é como se a cada dia estejamos lutando contra os mesmos inimigos.
Honra e glória aos heróis de Monte Castelo, que nos deixaram um legado de luta e determinação, a honrar e defender diante das atuais ameaças universais.
Texto: Israel Blajberg / iblajberg@poli.ufrj.br