A juventude é sempre um testemunho de coragem, de nobreza e de fé; mais do que isso – representa a autêntica força renovadora dos ideais e a aguerrida guardiã do futuro, catalisando as aspirações e as tendências do espírito contemporâneo. Na energia dos jovens, resplandecem as qualidades que fazem a fortuna dos povos, pois ela traz em si mesma a antecipação dos fatos e dos destinos.
Assim foi trilhada a lendária trajetória do jovem “Tenente” Eduardo Gomes, o herói que de fuzil em punho, embalado pelo ideário patriótico da primeira mocidade, evoluiria, em duas décadas de intensas agitações, das areias de copacabana para se revelar um estadista de pulso, amadurecido para a análise objetiva e serena dos problemas vitais do nosso estimado brasil.
Reconhecido como um autêntico homem público, o patrono da força aérea brasileira sempre imprimiu um cunho claramente cívico aos seus discursos, ao adotar como temas os nossos maiores óbices e ao conduzir, com maestria, o vigor de seu intelecto para uma abordagem de rara lucidez entre os da sua época.
O valoroso soldado do “trampolim da vitória”, líder da campanha aérea sobre as águas nordestinas durante a segunda grande guerra, sabia apontar erros, sem desmandos de linguagem, conservando uma serenidade edificante e uma linha de compostura a toda prova.
Não obstante os resultados das urnas, a sua candidatura aos pleitos presidenciais se revestiu de farto simbolismo para os destinos da nação, principalmente, naquela conjuntura histórica de resgate do sublime espírito democrático.
Com notória transparência, o nosso brigadeiro assim definiria o resultado da campanha de 1945, a chamada “campanha de libertação”: “as conclusões do pleito…. Estão ungidas do privilégio de encarnar a vontade da nação. Se ela pronunciou soberanamente as suas preferências, só há motivo para nos regozijarmos com essa fecunda experiência de um povo, que retoma a prática dos seus direitos cívicos”.
Foi esse invulgar civismo e irretocável senso de justiça a guiá-lo na sua incansável defesa pela criação do ministério da aeronáutica e do integrador correio aéreo nacional. Sabia ele quão importante haveria de ser o avião, como bravo descobridor de mundos; indispensável dominador de distâncias; fiel aliado no socorro aos aflitos; e necessário instrumento de compreensão da nossa brasilidade.
Sua vasta experiência a bordo das aeronaves do can afiançar-lhe-ia diagnosticar que longe de diminuir a unidade nacional, o regionalismo dava-lhe pulsante vida e abundante colorido, contemplados do alto dos céus por pilotos e mecânicos daquela iniciativa pioneira de unificação.
Nas asas da força aérea a integridade territorial atingiu sua plenitude, quando a nossa gente finalmente pode compreender que unidade não significava uniformidade, pois cada uma das regiões do país cultivava e resguardava suas tradições e costumes, mas permanecendo intensamente brasileiras – o brasil de muitos brasis – a riqueza dessa pátria polida pelas hélices de nossas aeronaves.
Herdeiros do maior dos bandeirantes dos céus, orgulhemo-nos da sensação de dever cumprido do “Major” Eduardo Gomes, naquele remoto 12 de junho de 1931, envolvido pela tensão e pelas expectativas peculiares aos comandantes, testemunhando a partida dos seus pilotos para a desbravadora missão, sem imaginar como aquela empreitada haveria de se perpetuar, comemorando mais de 80 anos de irretocáveis serviços prestados à pátria.
É esse mesmo nobre sentimento de orgulho que inundará a alma de todos nós, integrantes de uma moderna e inovadora força aérea, quando presenciarmos, num futuro muito próximo, o roll-out da aeronave kc-390, o maior avião produzido no brasil, e natural herdeiro daqueles bravos monomotores da década de trinta.
Sucessos dessa magnitude devem nos inspirar a continuarmos resolutos na busca por novos desafios a cada amanhecer, tal qual o aniversariante de hoje, que acreditava no imensurável valor das singelas contribuições de nossa rotina diária, para a conclusão das maiores realizações da nossa instituição militar.
Sem dúvidas, esse foi um dos faróis a nos guiar durante o bem-sucedido processo de escolha da nova aeronave de caça da Força Aérea Brasileira – o Gripen NG.
Mirem-se no seu exemplo de eterna jovialidade de ideais, pois fosse ele tenente ou brigadeiro, mantinha a mesma firmeza de atitudes; a mesma coerência no pensar e no dizer; a mesma lealdade; e o mesmo respeito à dignidade humana.
Mantenham-se também jovens de espírito, pois os mais novos se entusiasmam com os exemplos de grandeza, de renúncia e de coragem, sem descuidar da aguçada sensibilidade para valorizar tudo que é verdadeiro e honesto.
Honrem a gloriosa epopeia dos militares que nos antecederam, os quais zelaram por manter as asas dessa grandiosa instituição abertas, navegando em todos os meridianos e paralelos da nossa terra do cruzeiro do sul, presente, a cada instante, na vida dos brasileiros.
Certamente, a caminhada à frente será mais longa do que a já percorrida, porém serão os desafios a moldar nossa têmpera na busca de duradouros resultados, pois estes como robustos e milenares jequitibás não têm a vida efêmera dos pequenos arbustos, que crescem rapidamente para logo perecerem.
Desse modo, ao cultuarmos as vitórias de homens do quilate do abnegado e heroico Marechal-do-Ar Eduardo Gomes, nós da aeronáutica brasileira continuaremos refletindo, ao longo dos anos, a dimensão daqueles que a conduziram, espelhando a vida de líderes, cuja existência ilumina a todos, honrando, acima de tudo, o rico significado da palavra – brasil.
Que esse imensurável legado de amor à pátria perpetue-se para toda a eternidade!
Muito obrigado a todos!
Tenente-Brigadeiro do Ar Juniti Saito
Comandante da Aeronáutica