O desânimo e a deserção estão começando a afetar os terrorista do Estado Islâmico, a coesão da mais poderosa força jihadista do mundo começa desmoronar, enquanto sua força militar passa a ser retardada pelo avanço da coalisão. Ativistas no leste da Síria, controlados pelo EI dizem que, à medida que o progresso militar desacelera e o foco se torna governar a área, cresce a frustração entre os militantes considerados parte da força de combate mais disciplinada e eficaz na guerra civil.
No meio do ano, o grupo avançou sobre o Iraque ocidental e a Síria oriental, numa ofensiva que chocou o mundo. O EI ainda tem muita força: controla faixas de território e progride no Iraque ocidental. Seus combatentes, porém, atingiram o limite de áreas sunitas muçulmanas descontentes (facilmente domináveis), e a coalizão dos EUA e de forças locais com ataques aéreos e por terra, começou a frear sua expansão.
Nesta semana os EUA anunciaram que dois líderes do EI foram mortos em ataques aéreos –o grupo não confirma–, e combatentes curdos interromperam o cerco de cinco meses ao monte Sinjar, no Iraque.
“O moral não está caindo, ele já bateu no chão”, disse um ativista opositor em área controlada pelo EI na província de Deir Ezzor, na Síria oriental. “Combatentes locais sentem que fazem a maior parte do trabalho e os combatentes estrangeiros que pensavam estar numa aventura, agora estão exaustos.”
Um opositor do regime sírio e do EI disse saber de cem execuções de combatentes estrangeiros do EI, que tentavam fugir de Raqqa, cidade do norte da Síria que é, na prática, a capital do Estado Islâmico. Como a maioria dos entrevistados, ele pediu para não ser identificado. “Após a queda de Mossul, em junho, o EI se apresentava como incontrolável e vendia um sentido de aventura”, disse um oficial americano.
Segundo ele, a dinâmica mudou desde que os EUA fizeram ataques aéreos em agosto e contribuíram para quebrar o avanço do EI, o que ajudou a conter o fluxo de recrutas estrangeiros. Advertiu, porém, que a mudança de humor “não afetou os radicais”.
O analista Torbjorn Soltvedt, da consultoria Verisk Maplecroft, no Reino Unido, disse que a transformação dos próprios combatentes, de exército móvel a força de governo, abala o moral. “Antes eles agregavam território, forçavam exércitos no Iraque e na Síria a se retirar”, disse. “Agora, eles são basicamente uma força de ocupação tentando governar.”
Depois de dias de vitórias rápidas do EI, alguns estrangeiros podem questionar a longa e cansativa luta adiante. Segundo Soltvedt, sua organização recebe relatos de combatentes estrangeiros em contato com familiares e autoridades para voltar ao lar.
Membros do EI em Raqqa dizem que o grupo criou um policiamento militar para reprimir combatentes que faltam ao serviço. Segundo ativistas, dezenas de casas foram invadidas e muitos membros foram presos. Militantes disseram ser obrigados a carregar um documento que os identifica e diz se foram incumbidos de uma missão.
Um documento apresentado ao “Financial Times” lista novas regras para os membros do EI. O papel, que não pôde ser checado, diz que quem não se apresentasse aos escritórios 48 horas após o recebimento seria punido. “Em Raqqa, prenderam 400 membros até agora e fizeram documentos para os outros”, diz um militante.
A identificação de combatente é um formulário impresso com nome, local, seção e missão preenchidos à mão. “A situação não é boa”, resmungou o militante, dizendo que combatentes estão descontentes com seus líderes. “Nós não podemos falar a verdade e somos forçados a fazer coisas inúteis”, afirmou.