Por Santiago Wills
O grupo terrorista Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) planejava um grande esquema de extorsão neste ano para aliviar seus graves problemas financeiros, segundo e-mails analisados pelas forças de segurança colombianas nos últimos meses.
Os e-mails eram de laptops apreendidos pelo Exército Nacional da Colômbia em um acampamento das FARC em fevereiro de 2014. Desde então, cerca de 50 investigadores da Polícia Nacional da Colômbia e agentes da inteligência passaram meses varrendo essas mensagens em busca de dados de inteligência.
Eles revelam que, embora participassem de conversações de paz com o governo em Havana, as FARC estavam planejando e se envolvendo em atividades criminosas. Alguns dos e-mails mostram que o grupo terrorista passa por problemas financeiros, em parte por conta dos esforços bem-sucedidos dos militares e policiais colombianos.
Em um dos e-mails, o líder das FARC, Rodrigo Londoño Echeverri – conhecido como “Timochenko” –, reconheceu que o grupo terrorista foi “enfraquecido” por causa do trabalho das Forças Armadas da Colômbia e da polícia, com o apoio dos Estados Unidos. Colômbia e EUA cooperam na luta contra as FARC e outras organizações terroristas, principalmente por meio do compartilhamento de informações e recursos.
Detectados esquemas de extorsão das FARC
Para tentar melhorar suas finanças, o Bloco Sul das FARC planejava uma série de esquemas de extorsão de grandes empresas, segundo um e-mail da primavera de 2013. As FARC planejavam exigir US$ 1 milhão (R$ 2,46 milhões) de uma petrolífera para cada poço de petróleo ativo e o pagamento de US$ 5 (R$ 12) para cada barril extraído.
“Em regiões onde existem minas de ouro, esmeralda, brita (…), vamos impor uma taxa de 20% sobre a produção”, diz um dos e-mails. As FARC planejavam forçar empreiteiras estatais a pagar 10% de seus lucros para o grupo terrorista. Por exemplo, pretendiam cobrar das empresas que asfaltavam estradas um mínimo de 30 milhões de pesos. Alguns e-mails sugeriam que as FARC investissem em ações da Ecopetrol.
O Bloco Leste das FARC também buscava fontes alternativas de renda. Desde 2011, pelo menos, a facção se envolveu em alternativas para o narcotráfico levantar fundos, como a venda de gado, segundo alguns dos e-mails investigados.
“O mais preocupante é que (…) estamos torrando nosso dinheiro”, diz um dos e-mails das FARC. “E, se continuarmos nesse ritmo, vendendo 2.000 cabeças de gado a cada quatro meses, isso provavelmente nos garantiria um ano e alguns meses.” no sudeste do país, a situação financeira das FARC era tão difícil que os líderes do Bloco Leste constantemente pediam aos subordinados para compilarem relatórios contábeis sobre seus investimentos para que pudessem monitorar o que acontecia com cada centavo.
Alguns membros do grupo terrorista sugeriram o aumento da renda de sequestros em áreas sob a influência da 53ª Frente, controlada pelo líder das FARC Henry Castellanos Garzón, o “Romaña”. Em 2012, esse grupo tinha débitos de mais de US$ 1 milhão (R$ 2,46 milhões) segundo alguns dos e-mails.
Operação corajosa levou à apreensão de computadores das FARC
Um operação corajosa de soldados do Exército levou à captura dos computadores com os e-mails das FARC. Em fevereiro, tropas do Exército atacaram um acampamento das FARC perto do município de Vista Hermosa, no departamento de Meta, onde os líderes do Bloco Leste se reuniam. Oito terroristas das FARC foram mortos e os sobreviventes fugiram, deixando para trás computadores e drives criptografados.
Os e-mails das FARC mostraram que o grupo terrorista está fragmentado, com várias frentes lutando para levantar fundos. “A grande percepção desses e-mails é que os guerrilheiros não têm mais um sistema para suas fontes diferentes trabalharem juntas”, afirma Daniel Rico, analista de segurança colombiano.
Onde antes havia várias frentes com ligações específicas na cadeia de produção de drogas, agora há grupos espalhados lutando para sobreviver sem confiar em dar apoio um ao outro. “As FARC não são mais tão ricas quanto achávamos. Se examinarmos sua contabilidade, vamos concluir que cada unidade guerrilheira, depois de 50 anos de luta, ficou com menos de 20 milhões de pesos.”