Após ter várias de suas contas no Twitter fechadas no último ano, o grupo extremista autodenominado “Estado Islâmico” (EI) passou a distribuir sua propaganda por meio de uma nova plataforma: o aplicativo de mensagens criptografadas Telegram. Criado pelos irmãos Durov, os mesmos fundadores da rede social mais popular da Rússia, a VKontakte, também conhecida como VK, o programa para celulares combina a rapidez do Whatsapp à efemeridade das mensagens do Snapchat e recursos de segurança avançados. No mês passado, o app lançou uma nova função que permite criar um canal de informações e distribuí-las para um número ilimitado de seguidores, recurso que se provou bastante útil para os membros do “EI”.
Pelo Telegram, os militantes não só divulgam suas ideias, mas também travam “conversas secretas”, negociam resgates de reféns sequestrados e planejam seus ataques. Em 26 de setembro, apenas quatro dias depois do lançamento da nova funcionalidade, os seguidores do “EI” no Twitter começaram a anunciar a existência do canal jihadista no Telegram, batizado com o sugestivo nome de Nashir – “distribuidor”, em árabe. Em 15 dias, tinha mais de 4,5 mil assinantes. Desde então, a propaganda do “EI” passou a ser divulgada primeiro no Telegram, antes mesmo de ser publicada no Twitter, que ainda permanece sendo uma plataforma-chave para a disseminação de mensagens do grupo.
Por meio do aplicativo, por exemplo, o “EI” assumiu a autoria de um ataque contra forças da Arábia Saudita e dos Emirados Árabes em um hotel da cidade de Aden, no Iêmen, na última terça-feira. O grupo espera que o Telegram seja uma plataforma mais estável e resistente para expandir o alcance de sua propaganda, após a ofensiva contra as contas do “EI” no Twitter. Mas a empresa responsável pelo aplicativo já afirmou que apagará todo material ilegal que apareça nele, inclusive mensagens relacionadas a jihadistas.
Gato e rato
O “EI” não tem presença oficial no Twitter desde julho de 2014, quando as últimas contas criadas pelo próprio grupo foram apagadas, depois disso os jihadistas testaram diversas redes sociais menos conhecidas, como a Diáspora e a VK, mas também acabaram expulsos delas. Nesse meio tempo, o Twitter se manteve como a plataforma preferida do “EI”, fazendo jogo de gato e rato com a administração da rede social, que periodicamente fecha contas de seus militantes, ainda que não sejam perfis oficiais do grupo. Antes do lançamento do canal oficial no Telegram, já era notório que o grupo e seus membros estavam usando o aplicativo.
No início de setembro, o “EI” divulgou um número de celular iraquiano por meio do qual era possível entrar em contato com os jihadistas para pagar o resgate de pessoas mantidas como reféns pelos militantes. Uma das vantagens do Telegram é que suas mensagens são criptografadas, uma tecnologia que permite que só o emissor e o receptor as leiam e, assim, confere mais privacidade a seu conteúdo. O “EI” tirou proveito disso, por exemplo, para planejar seus ataques. Esta possibilidade de ter “conversas secretas” e evitar que as mensagens trocadas sejam interceptadas por hackers ou agências governamentais por meio do app é algo que o torna atraente para grupos como o “EI”.
O braço da Al-Qaeda no Iêmen também já lançou seu próprio canal no Telegram, apesar de ainda dar prioridade ao Twitter, onde mantém uma conta oficial. O grupo líbio Ansar al-Sharia fez o mesmo, assim como outros grupos de seguidores do “EI” e da Al-Qaeda. O Telegram confia tanto em seus recursos de segurança que já ofereceu recompensas de até US$ 300 mil (R$ 1,17 milhão) para a primeira pessoa que conseguir vencer as barreiras de sua criptografia.
FONTE: BBC Brasil