Ocultando as más notícias antes do feriado do 4 de Julho, o Pentágono anunciou às 21 horas do dia 3 que a frota inteira de caças F-35 permaneceria em terra após um incêndio, no dia 23, na Base Aérea Eglin, Flórida.
A decisão não podia chegar no pior momento, especialmente para o Corpo de Fuzileiros Navais, que estava com inúmeros eventos importantes planejados este mês para sua versão do avião de próxima geração, cujos custos dispararam, alcançando cerca de US$ 112 milhões por aeronave.
Efetivamente, afirmar que o mais caro avião de guerra da história americana é perigoso de voar é um enorme golpe em termos de relações públicas para o Pentágono, que há anos vem sendo criticado por permitir que os custos do aparelho aumentassem mesmo quando sua data de entrega continuava a ser protelada.
A principal empresa contratada, a Lockheed Martin, também veria prejudicados seus resultados financeiros se o F-35 não fosse autorizado a voar para a Grã-Bretanha para uma série de feiras de aeronáutica repletas de potenciais clientes.
Mas a decisão não destruiu o F-35, peso pesado de um programa que aparentemente tem cobertura política suficiente para suportar qualquer tempestade.
Parte dessa proteção vem do montante de dinheiro em jogo. O Pentágono pretende gastar US$ 399 bilhões para desenvolver e comprar 2.443 desses aviões. Mas, durante o tempo de vida das aeronaves, os custos operacionais devem ultrapassar US$ 1 trilhão.
A Lockheed contratou fornecedores e subcontratou empresas em praticamente todos os Estados para assegurar que todos os senadores e membros do Congresso tivessem interesse em manter o programa – e os empregos que gerou – em vigor.
“Uma questão que se apresenta com relação a esse programa é: quantos distritos eleitorais estão envolvidos nele?”, questionou Thomas Christie, ex-funcionário do Pentágono.
No caso do F-35 a resposta é: muitos. Contando todos os fornecedores e subcontratantes, partes do programa estão espalhadas por pelo menos 45 Estados. É por isso que os parlamentares continuarão a financiar o programa mesmo que esta seja a terceira vez em 17 meses que a frota inteira é retida em solo por problemas com o motor.
Na verdade, segundo a lei sobre aquisições pela Defesa aprovada pela Câmara, os legisladores concordaram com a compra de 38 aviões em 2015, 4 a mais do que o Pentágono havia requisitado.
O Pentágono forneceu poucas informações sobre as causas do incêndio. O Corpo de Fuzileiros Navais informou que a versão fabricada para ele – o F-35 B – não recebeu autorização para participar da Feira Internacional de Aeronáutica de Farnborough e da Royal International Air Tattoo, na Grã-Bretanha, esta semana.
“Ninguém deseja apressar a volta ao ar da aeronave antes de saber exatamente o que ocorreu”, afirmou o assessor de imprensa do Pentágono, almirante John Kirby.
Além da versão destinada aos Fuzileiros Navais, o F-35 vem sendo fabricado para Marinha e Força Aérea. Cada serviço tem sua versão de aparelho, embora o mais importante – o motor – seja o mesmo nos três modelos.
Mas as Forças Armadas não são os únicos clientes. Oito parceiros internacionais firmaram contratos para ajudar a construir e vender os aviões: Grã-Bretanha, Itália, Holanda, Turquia, Canadá, Austrália, Dinamarca e Noruega.
Embora não envolvidos no desenvolvimento do avião, Israel e Japão pretendem comprá-lo por meio de um processo de vendas militares estrangeiras e a Coreia do Sul informou que vai adquirir ao menos 40 aeronaves.
É crucial para o Pentágono que cada um desses países mantenha suas compras para evitar que o preço unitário de cada aeronave aumente mais.
Para a Lockheed, as vendas para outros países constituem uma parte importante de sua estratégia para diversificar seus negócios, avançando além do mercado em retração da Defesa nos EUA e entrando em outros no exterior que vêm se expandindo.
Infelizmente para o Pentágono, e para a Lockheed, diante da decisão de reter os aviões, sua estreia internacional marcada para 4 de Julho foi cancelada.
Nenhum dos países envolvidos no programa indicou mudança na sua intenção de compra. Seu futuro realmente não está em questão, mas o F-35 enfrenta desaprovação em casa.
No Capitólio, o maior crítico é o senador republicano John McCain. Ele deplorou os custos do programa e o fato de os EUA adquirirem uma aeronave antes da conclusão dos testes. A Boeing, rival da Lockheed, critica as capacidades do F-35 na imprensa e compete com ele para conseguir recursos no Capitólio.
Mas mesmo a Boeing tem cuidado com as críticas, pois não quer prejudicar seu relacionamento com clientes governamentais, disse Winslow Wheeler, funcionário do Congresso.