Após um ano e meio de confrontos sangrentos, o governo da República Democrática do Congo anunciou nesta terça-feira (05/11) uma “vitória total” sobre o grupo rebelde M23. Também os combatentes da milícia anunciaram o fim da luta armada contra o Exército da República Democrática do Congo e as forças das Nações Unidas.
Em comunicado intitulado Anúncio do fim da rebelião, o chefe do movimento, Bertrand Bisimwa, afirma que o M23 “decidiu a partir de hoje pôr fim à sua rebelião e prosseguir, por meios puramente políticos, a busca por soluções para as causas profundas que antecederam à sua criação”.
Desde a formação do M23, em abril de 2012, os confrontos com as tropas do governo provocaram a fuga de centenas de milhares de pessoas. A maioria delas encontrou abrigo no país vizinho Uganda, onde continuam as negociações de paz entre as partes conflitantes.
O nome do M23 tem origem na data em que, a princípio, seria assinado um acordo de paz com o governo em Kinshasa: 23 de março de 2009. Os rebeldes, pertencentes em sua maioria à etnia Tutsi, acusam o governo de não cumprir antigas promessas. Desde o início da rebelião, o governo da República Democrática do Congo e as Nações Unidas acusaram repetidamente tanto Uganda quanto Ruanda de apoiar o grupo rebelde.
Milhares de civis fogem
Já no domingo, Bisimwa havia assinado um acordo de cessar-fogo, depois que o Exército congolês havia tomado o bastião rebelde Bunagana, na província de Kivu do Norte. “Nós ordenamos a todos os membros do M23 a cessar todas as atividades contra as Forças Armadas da República Democrática do Congo”, disse Bisimwa em comunicado. Dessa forma, ele tentou abrir o caminho para um processo de paz político e dar continuidade às negociações de paz, que foram interrompidas em outubro.
Elas fracassaram devido à cláusula de anistia para os líderes dos rebeldes. O presidente Joseph Kabila rejeita essa cláusula. Os rebeldes do M23 são os mais fortes entre os diversos grupos que tentam, por meio da violência, aumentar sua influência na região oeste do país, rica em matérias-primas.
Bunagana foi o último reduto dos rebeldes a ser reconquistado na semana passada pelo Exército congolês. Em seguida, os combatentes do M23 se retiraram para as montanhas.
De acordo com o Alto Comissariado da ONU para Refugiados (Acnur), milhares de civis fugiram através da fronteira para Uganda. Desde o início das lutas, no começo de 2012, por volta de 800 mil pessoas fugiram do Congo oriental, disse a ONU.
“Viemos lá de cima das montanhas”, contou uma mulher no campo de refugiados Ntamugenga, onde quase 5 mil pessoas encontraram abrigo no Kivu do Norte. “Não temos roupas para nossas crianças nem comida. Nossos filhos morrerão de fome.”
“Fugimos das bombas que eram jogadas dos helicópteros”, relatou outro refugiado à Deutsche Welle. “É o momento mais difícil em nossas vidas. Sem as barracas distribuídas pelas organizações de ajuda, ainda estaríamos dormindo do lado de fora.”
Uganda “muito preocupada” com as lutas
Uganda, país vizinho do Congo, também havia enviado tropas e tanques para a fronteira, informou um porta-voz do Exército ugandense, salientando que Uganda estava “muito preocupada” com o fato de “mísseis do Congo” também terem atingido solo ugandense.
Os chefes de Estado e governo da Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC, na sigla em inglês) e da Conferência Intergovernamental para Região dos Grandes Lagos se encontraram na segunda-feira na África do Sul, para discutir os próximos passos para uma missão de paz no Congo.
Diversos Estados, inclusive a África do Sul, participam das tropas da Monusco, a Missão Estabilizadora das Nações Unidas na República Democrática do Congo, que apoiou o Exército congolês na luta contra os rebeldes do M23.