O caça russo MiG-35, que perdeu uma licitação entre os modelos multifuncionais na Índia em 2010, deve começar a sobrevoar o espaço aéreo egípcio. Os governos de Moscou e do Cairo estão acertando os detalhes de um acordo estimado em US$ 3 bilhões para fornecer, entre outras coisas, 24 caças MiG-35 avançados para o país – com cada unidade avaliada em US$ 30 a 40 milhões.
A venda dos MiG-35, que foi discutida durante a visita de uma delegação militar russa para o Egito em abril passado, é um desenvolvimento significativo nas relações entre os dois países.
Mikhail Riabov, especialista militar que fazia parte da equipe de assessoria militar russa durante a guerra árabe-israelense de 1973, disse recentemente a um jornal egípcio que “os acordos serão colocados em prática em um futuro próximo”.
Como o Egito era governado por um governo interino, o acerto foi basicamente verbal. Os russos estavam apostando no marechal Abdel-Fattah Al-Sisi para ganhar as eleições e celebrar o contrato no início do seu mandato – e Al-Sisi entrou no poder em maio passado.
Acredita-se que o escopo do acordo também possa ser ampliado para incluir mais equipamentos de defesa, tais como os helicópteros de combate aéreo Mi-35, mísseis antitanque e sistemas de defesa costeira.
Características do avião
A Força Aérea Egípcia, que é em grande parte dependente dos obsoletos caças a jato de fabricação americana F-16, está provavelmente ansiosa para receber o novo modelo russo. O MiG, que foi apresentado pela primeira vez em um show aéreo de Bangalore em 2007, é uma aeronave multifuncional com bons recursos tanto em missões ar-ar, como em ataques de precisão contra alvos terrestres, em todos os tipos de clima.
A versão para exportação será equipada ainda com radar de varredura eletrônica ativa Zhuk-AE, e é compatível com sistemas de armas russos e ocidentais. Embora que muitos “especialistas” digam que o MiG-35 é apenas um MiG-29 em nova roupagem, a realidade é que trata-se de uma aeronave mais aperfeiçoada e 30% maior.
Não só é um capaz de neutralizar aeronaves de ataque e mísseis de cruzeiro, como também pode destruir alvos marítimos e na superfície a partir de grandes distâncias e realizar missões de reconhecimento aéreo. Além disso, pode apresentar algumas características stealth devido à utilização de materiais compostos utilizados em sua fabricação.
De acordo com o comandante da Força Aérea Russa, o general Aleksandr Zelin, até que o caça stealth PAK-FA seja introduzido, os militares russos usarão os novos caças multifuncionais MiG-35 para enfrentar a mais recente aeronave furtiva dos EUA, o caça F-35.
O governo russo assinou um contrato de US$ 473 milhões por 16 caças MiG-35, com o início das entregas em 2016. Segundo a United Aircraft Corporation, a empresa tem expectativa de que cerca de 100 unidades do MiG-35 sejam adquiridos “em curto prazo”.
Duelo de estratégias
Se a venda se concretizar, será um acontecimento de importância estratégica, pois marcará o retorno da Rússia ao coração do Oriente Médio – depois de 40 anos no “deserto diplomático”. Em 1972, o então presidente egípcio Anwar Sadat expulsou mais de 17.000 conselheiros militares soviéticos do país e entrou em uma aliança com os Estados Unidos e Israel.
O acordo não só será um sinal de que a influência americana na região está enfraquecendo, mas, do ponto de vista do Kremlin, seria mais uma conquista – depois da Síria e da Crimeia – em sua disputa estratégica com o Ocidente.
De acordo com analistas Yiftah Shapir, Zvi Magen e Gal Perel, do Instituto de Israel para Estudos de Segurança Nacional, “a Rússia designou o Oriente Médio como outra frente na sua luta global contra o Ocidente, em parte para equilibrar as pressões sobre si no leste da Europa”.
A Rússia teria, portanto, um interesse claro no contrato de armas com o Egito, pois poderia reforçar significativamente a sua posição internacional e servir como um exemplo digno para os outros países da região também ampliarem a cooperação.
Os israelenses acreditam que o acordo é um grande revés para a política dos EUA e diplomacia no Oriente Médio – uma rejeição direta a Washington. Um analista local descreveu a situação como se “Obama estivesse perdendo o Egito para Pútin”.
Quem paga?
O Egito está à beira da inadimplência financeira. Desde que os russos partiram na década de 1970, as exigências de defesa do país foram atendidas pelos Estados Unidos.
No entanto, em outubro de 2013, os EUA declarou que iria reajustar a ajuda de defesa para o Egito e suspender parte do fornecimento por causa de uma lei americana que proíbe a exportação de armas para regimes que chegaram ao poder por meio de um golpe militar.
Nesse cenário, a capacidade do Egito de autofinanciar essas compras de grande valor é duvidoso. Embora a Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos estejam declaradamente dispostos a pagar pelos MiGs, a grande questão é: será que eles farão isso mesmo?
Ambas as ditaduras do Golfo estão firmemente ligadas ao domínio americano, mas ultimamente têm tentado fazer as pazes com Moscou. Os sauditas, que apoiavam abertamente os fundamentalistas islâmicos na Síria, em uma tentativa de derrubar o presidente Bashar Al-Assad, acabaram frustrados quando os Estados Unidos recuaram e decidiram não atacar a Síria.
A Arábia Saudita também está preocupada com as investidas americanas em relação ao seu arqui-inimigo Irã. O fortalecimento do Egito, que é o único país árabe (agora que o Iraque foi neutralizado) que pode resistir como um baluarte contra os temidos persas, é, portanto, do interesse do governo de Riad.