O contrato do MMRCA estipula que armas de escolha da IAF devem ser integradas a aeronave escolhida, possibilitando que mísseis russos possam ser usados no Rafale.
Se a Índia e a França são capazes de assinar o contrato final para a compra do Rafale, então existe a possibilidade do caça francês ser armado com mísseis russos. De acordo com Boris Obnosov, Diretor Geral da Tactical Missile Weapons Corporation (TRV), se for necessário, a empresa com sede em Moscou, “está pronta para adaptar os mísseis russos na aeronave francesa. Estes incluem bombas guiadas de longo, médio e curto alcance, mísseis ar-ar e mísseis anti-navio. Por suas características de desempenho, eles são tão bons quanto, se não forem melhores que os seus pares ocidentais”, disse à imprensa.
Durante o processo de licitação do MMRCA (Medium Multi-Role Combat Aircraft) foi estipulado que as primeiras 18 aeronaves deveriam ser entregues com um conjunto completo de armas integradas. A fabricante, Dassault Aviation, quer equipar o Rafale com mísseis franceses, mas há uma cláusula que exige que o fornecedor “integre armas adicionais a escolha da Força Aérea da Índia, conforme necessário”.
De fato, uma das razões para o atraso na assinatura do contrato do MMRCA poderia ser o problema de integração de armamento de terceiros. “Parece provável que a IAF e a TRV estejam olhando para futuros upgrades do Rafale. Mas o assunto pode ser mais uma complicação que está impedindo a conclusão do negócio”, disse a Aviation News International.
A integração de armas russas em aviões de guerra franceses na realidade não é uma ciência a ser desenvolvida. Caças Mirage F1EQ, da Força Aérea iraquiana, já foram armados com o míssil ar-superficíe Vympel Kh-29L, que são projetados para atacar alvos terrestres e de superfície, como grandes pontes ferroviárias e rodoviárias, navios e aviões em abrigos de concreto armado. O Mirage F1 da Força Aérea da África do Sul foi armado com o míssil ar-ar R-73E de curto alcance. Este versátil míssil também foi testado no Tejas.
Vantagem de poder de fogo
A capaciadade de usar armas russas ajudaria o Rafale em competições de exportação. Neste contexto, Obnosov ressaltou que a França não é avessa à idéia de usar mísseis russos, se isso ajudá-los a fechar o negócio com a Índia. “Eles têm algum interesse na adaptação dos nossos produtos para o Rafale”, disse ele. No entanto, Obnosov acrescentou: “Esta questão não pode ser resolvida rapidamente quanto qualquer outro trabalho mas, estamos em processo de conclusão”.
A Índia definitivamente vai visar esta integração, pois tem grandes estoques de mísseis russos, pois além dos mísseis ar-ar MICA, que vieram com o Mirage 2000, a IAF não possui outras armas compatíveis com o Rafale.
“A única barreira pode não ser a técnica, pois este processo de integração pode não sair barato. A menos que a parceria TVR/Dassault desenvolva uma interface universal para os mísseis russos, esse tipo de integração e testes é demorado e caro”, disse Obnosov.
O dilema dos mísseis
A superioridade aérea é o desequilíbrio entre forças aéreas, os mísseis ar-ar são componentes críticos de um avião de caça. Por causa da eficácia dos mísseis BVR, principal arma dos pilotos de caça, a prioridade da IAF é possuir o melhor míssil ar-ar disponível.
Até a década de 1980, antes do Flanker entrar em serviço, os russos enfrentavam aeronaves altamente sofisticadas, como o F-14, F-15 e F-16. Para contrapor estas aeronaves, foi desenvolvida uma série de mísseis projetados para conter os caças da série “F”. Razão pela qual ainda hoje aeronaves russas decolam com um conjunto completo de mísseis ar-ar, destinados a cumprir um amplo espectro de missões. Mais do que qualquer outra força aérea, a IAF entendeu e também adotou esta estratégia.
O MICA francês simplesmente não tem o pedigree dos mísseis russos, fazendo surgir questões para a IAF: Será que a insistência em ter mísseis russos no Rafale vai elevar o custo? E qual seria a troca de capacidade, se a Índia comprar mísseis franceses?
O contrato com a Dassault Aviation será finalizado antes do fim do atual ano fiscal do governo, que termina em 31 de março de 2014. Os franceses esperavam fechar o negócio em 2013, mas a misteriosa morte do principal negociador indiano, Arun Kumar Bal, em 2 de outubro, desacelerou as negociações.