No final de julho, quando a União Europeia introduziu o embargo à importação e exportação para a Rússia de armas, artigos de dupla utilização e tecnologia de uso militar, a Gazeta Russa analisou todos os setores e projetos que poderiam ser afetados pela decisão.
Entretanto, ao embargo de julho já se acrescentaram a proibição de financiamento da dívida aos três maiores consórcios russos de defesa –o Uralvagonzavod, o Oboronprom e a United Aircraft Corporation –, sanções contra nove empresas-chaves de defesa da Rússia e o cancelamento do contrato de fornecimento da empresa Mistral, que não foi abrangida por nenhuma sanção.
Mas quanto as sanções ocidentais custaram e custarão à indústria de defesa da Rússia?
Contratos
Em setembro, o Ministério da Defesa russo disse “não estar preocupado em relação às sanções”, fazendo notar que com isso poderiam sofrer países terceiros que compram técnica russa com acessórios estrangeiros. Por outro lado, o presidente Vladímir Pútin disse que “a indústria deve estar preparada para ela mesma produzir equipamento, componentes e materiais vitais, possuir potências fabris à altura, assim como tecnologia, projetos e reservas técnicas”.
De acordo com dados da Rossoboronexport, privar-se da aquisição de armamento já pronto do Ocidente não vai provocar nenhum dano colateral na capacidade defensiva da Rússia.
As sanções, como qualquer lei, não podem ser aplicadas retroativamente e se estender a acordos já celebrados. Mas com a Mistral aconteceu precisamente isso. Será de esperar a mesma atitude em relação a contratos com países terceiros?
No que diz respeito a turbinas a gás para fragatas, corvetas e outros navios de guerra, a Rússia depende 100% das importações. Também podem surgir problemas com a eletrônica, cuja produção na Rússia está apenas começando a ganhar força, mas onde é possível trocar de fornecedores, especialmente porque os parceiros ocidentais nunca forneceram à Rússia eletrônica da classe Military e Space.
Substituição das importações
O vice-ministro da Indústria e Comércio, Serguêi Tsib, apresentou dados da avaliação dos setores mais promissores em termos de substituição das importações. A cota das importações de máquinas-ferramentas é superior a 90%, na engenharia pesada está entre 60% e 80% e na indústria eletrônica, entre 80% e 90%.
A diminuição da cooperação militar com o Ocidente começou ainda antes do conflito na Ucrânia. Desde 2012 que o departamento militar não celebrava novos contratos para fornecimento de volumes substanciais de produção europeia pronta para fins militares.
O programa de substituição das importações apresentado pelo Ministério da Indústria em 25 de julho de 2014 pressupõe a substituição de artigos importados –primeiro ucranianos e depois de fornecedores dos países que aderiram às sanções contra a Rússia– por produção nacional. Está se planejando o alargamento da cooperação com os países da União Aduaneira, isto é a Bielorrússia e o Cazaquistão.
O ministro da Indústria e Comércio, Denis Manturov, acredita que o programa de substituição das importações permitirá às empresas russas gerar um volume anual complementar de produção na ordem de mais de 30 bilhões de rublos já a partir de 2015 (cerca de US$ 550 milhões).