Cientistas anunciaram desenvolvimento de nova versão do sistema de mísseis balísticos ferroviário Molodets. Aparato é visto como uma resposta ao escudo antimíssil dos Estados Unidos que está sendo implantando no Leste Europeu.
No mês passado, o canal Zvezdá, que pertence ao grupo de mídia supervisionado pelo Ministério da Defesa russo, informou que um dos institutos de pesquisa científica a serviço das Forças Estratégicas de Mísseis concluiu com êxito mais uma etapa da pesquisa de desenvolvimento do sistema de mísseis balísticos ferroviário (SMBFO).
A vantagem do sistema de trem porta-mísseis sobre os mísseis intercontinentais móveis sobre rodas, que podem operar apenas em uma área limitada em volta da base principal, é a capacidade de “camuflar” o míssil no meio de inúmeras composições e de poder percorrer 85 mil km de linhas ferroviárias.
Acredita-se que o surgimento do SMBF na estrada ferroviária da Rússia seja uma das medidas que o Ministério da Defesa russo está preparando caso não consiga convencer a parte americana de desistir da intenção de implantar um escudo antimíssil no Leste Europeu. O próprio tratado Start-2, que entrou em vigor em 2011, não impõe à Rússia restrições nessa esfera.
De acordo com o editor-chefe da revista “Defesa Nacional”, Ígor Korótchenko, o SMBF deve entrar ao serviço das Forças Estratégicas de Mísseis da Rússia já em 2020 – na mesma época em que o sistema de defesa antimíssil americano ganhará novos mísseis SM-3, capazes de interceptar mísseis balísticos intercontinentais russos.
Arma secreta
Apesar da expectativa, pouco se sabe sobre o novo sistema. Especula-se que a experiência ganha na construção do Molodets será seguramente utilizada, mas o novo SMBF deve ser bem diferente de seu antecessor – sobretudo devido ao míssil que transporta. O antigo RT-23UTTKH – ‘Scalpel’ na terminologia da Otan – era desenvolvido pelo Departamento de Projetos Iujnoe, na Ucrânia.
Por outro lado, é precisamente deste míssil que irá depender não apenas o aspecto externo do sistema, como também a sua capacidade de passar despercebido nas estradas de ferro e, por conseguinte, a sua eficácia. A empresa-mãe do SMBF passou a ser criadora do projeto dos mísseis para os sistemas Bulava e Yars: o Instituto de Tecnologia Térmica de Moscou (MIT).
A União Soviética tinha, na época da assinatura do Start-2, 12 sistemas Molodets. Cada um deles transportava três Skalpel tri-faseado de combustível sólido. O sistema tinha uma resistência imensa aos efeitos de uma explosão nuclear e era capaz de recuperar por si mesmo toda a informação em seu “cérebro” eletrônico.
O doutor em ciências técnicas e professor Iúri Grigóriev refere que os trens porta-mísseis são muito mais protegidos contra um ataque nuclear inimigo do que os sistemas terrestres móveis sobre rodas, que podem se transformar em um “alvo indefeso e não sobrevivem ao primeiro disparo sobre eles”.
Grigóriev alerta, contudo, para o potencial perigo deste tipo de trens em tempo de paz. “Se terroristas conseguirem fazer explodir um trem desses equipado com mísseis com ogivas nucleares, ou até mesmo em caso de um acidente comum, as consequências trágicas serão imprevisíveis.”
Bulava sobre rodas
O RT-23UTTH se diferenciava por suas gigantescas dimensões: o seu peso inicial era superior a 104 toneladas, e a capacidade máxima de carga do vagão padrão BMZ (RS-5) soviético era de cerca de 47 toneladas. Esses vagões recebiam uma suspensão reforçada, e por vezes tinha que se reforçar também os trilhos ao longo dos trajetos de patrulhamento do Molodets.
Além disso, eram necessárias três locomotivas para puxar 17 vagões, incluindo 9 plataformas nas quais assentavam três rampas de lançamento com mísseis. O comprimento do RT-23UTTH no contêiner de transporte e lançamento era superior a 22 metros, o que ultrapassava comprimento do vagão padrão, mesmo sobre os eixos dos engates ferroviários.