A costa brasileira, conhecida mundialmente por suas belíssimas praias e belezas naturais, está se tornando um negócio bilionário. A descoberta do pré-sal já colocou os mares tupiniquins no radar das petroleiras e demais empresas que atuam no setor de óleo e gás. Agora é a defesa desse vasto território marítimo que promete atrair uma nova leva de contratos vultosos e grandes conglomerados multinacionais.
Na sexta-feira 17, a Marinha do Brasil deu o pontapé inicial para a implantação do Sistema de Gerenciamento da Amazônia Azul (Sisgaaz). Trata-se de uma megalicitação que vai movimentar R$ 10 bilhões.
O valor é semelhante ao da compra dos caças Gripen, da sueca Saab, pela Força Aérea Brasileira, anunciada no final do ano passado, que vai consumir US$ 4,5 bilhões. O objetivo do projeto naval é comprar equipamentos de última geração para monitorar e defender a chamada Amazônia Azul, uma área que se estende por 4,5 milhões de quilômetros quadrados, o equivalente à metade do território terrestre nacional, abrangendo toda a costa do País e uma parte do continente. O território inclui importantes ativos econômicos para o Brasil, como as reservas do pré-sal, áreas utilizadas para pesca e portos turísticos e de carga.
“Precisamos proteger os interesses econômicos do Brasil em nossas águas”, afirmou o vice-almirante Antônio Carlos Frade Carneiro, que está à frente do projeto, durante apresentação realizada na Escola de Guerra Naval, na cidade do Rio de Janeiro. Entre as aquisições previstas no Sisgaaz estão radares, sistemas de comunicação e captura de imagem, softwares de guerra eletrônica, equipamentos meteorológicos e até veículos aéreos não tripulados, também conhecidos como vants.
O modelo de licitação será o mesmo utilizado no programa Sisfron (Sistema de Monitoramento de Fronteiras), cujo pleito, realizado em 2012, foi vencido pelo consórcio Tepro, formado por Savis e Bradar, companhias controladas pela Embraer. A Marinha vai contratar uma empresa que ficará responsável por implantar o projeto. As interessadas poderão participar sozinhas ou em consórcios.
Companhias nacionais terão prioridade, mas poderão se unir a estrangeiras.
Alguns fornecedores nacionais, como Embraer, Avibras, Imbel e Odebrecht, levam vantagem por estarem enquadrados pelo governo na categoria de empresa estratégica de defesa.
O status, concedido no ano passado a 26 empresas, dá direito a redução de impostos para vendas às Forças Armadas. O projeto está aquecendo o mercado de defesa e segurança. Gigantes do setor, como as brasileiras Embraer, Odebrecht e OAS, a americana Boeing e a franco-alemã Airbus, estão se movimentando.
Uma das favoritas para levar o certame, a OAS, inclusive, já está formando um consórcio para participar. Ela vai se unir à israelense IAI, que atua na área aeroespacial, e às brasileiras Iacit, fabricante de radares, e Módulo, especializada em softwares de segurança.
A Odebrecht, em nota, também confirmou a participação no pleito, por meio de sua divisão de defesa e segurança. A empresa participa de outro projeto da Marinha ligado ao Sisgaaz: o Programa de Desenvolvimento de Submarinos (Prosub). Lançado em 2008, ele contempla a construção do primeiro submarino nuclear brasileiro, além de outros quatro convencionais a diesel. A companhia baiana firmou uma parceria com o estaleiro francês DCNS, especializado nesse tipo de embarcação, para tocar o projeto.
Além da união com a construtora francesa, a Odebrecht tem parcerias na área de defesa com a franco-alemã EADS, dona da Airbus, e comprou, em 2012, a fabricante de mísseis Mectron, de São José dos Campos, interior de São Paulo. Quem também saiu às compras foi a Embraer.
A fabricante dos conceituados Super Tucanos, aviões de treinamento e ataque leve que venceram uma recente licitação da Força Aérea americana, adquiriu, em 2011, a fabricante de radares Orbisat, sediada em Campinas, no interior paulista. “A Embraer se estruturou, nos últimos anos, para atender às necessidades das Forças Armadas do Brasil”, afirma Jackson Schneider, presidente da Embraer Defesa & Segurança.
Entre os produtos de interesse da Marinha fornecidos pela empresa, que nasceu no setor militar, estão os vants. Nesse segmento, a Embraer formou uma joint venture com a Elbit Systems, maior companhia militar privada de Israel. Dessa união nasceu a Harpia, fabricante de aviões não tripulados utilizados para vigilância, mas que também podem realizar ataques aéreos.
A Força Aérea dos Estados Unidos, inclusive, vem utilizando constante-mente esse tipo de equipamento em bombardeios. A licitação do Sisgaaz é mais um dos projetos responsáveis pelo renascimento do mercado de defesa e segurança brasileiro.
Negligenciada por cerca de duas décadas, a máquina de guerra do País está sendo reaparelhada.
Somente em 2012, o Brasil investiu US$ 33 bilhões na modernização de equipamentos e na contratação de mão de obra especializada, segundo a empresa de pesquisas britânica Defence IQ. A estimativa é que sejam investidos mais de US$ 120 bilhões em sistemas de defesa para o País nas próximas duas décadas.
Além da Marinha e da Força Aérea, responsáveis por projetos que somam cerca de R$ 20 bilhões, o Exército também vem movimentando esse mercado. O projeto de monitoramento das fronteiras, por exemplo, deve consumir R$ 12 bilhões. Há planos, ainda, para modernizar a frota de veículos blindados. Para um país conhecido internacionalmente por suas praias, esses investimentos mostram que invasão, por aqui, só se for de turistas.