Não havia terra à vista e os tubarões pareciam mesmo dispostos devorar o navegador depois de já terem destruído o leme de sua pequena embarcação. Quando Ebrahim Hemmatnia achou que o fim estava próximo, um avião da Força Aérea Brasileira (FAB) surgiu no horizonte. O Iraniano naturalizado holandês, Hemmatnia teve o sonho de navegar ao redor do mundo interrompido no fim de janeiro, a quase 1.000 quilômetros do litoral do estado do Rio Grande do Norte. Batizada de boatbike, sua embarcação é um barco-bicicleta de 6 metros de comprimento capaz de andar na terra e na água.
O plano de Hemmatnia era pedalar todo o planeta, atravessando continentes e oceanos, sempre próximo à Linha do Equador. “Eram uns 20 tubarões. Eles estavam me seguindo por horas e, assim que danificaram o leme, eu fiquei à deriva. Comecei, então, a mandar sinais de rádio pedindo ajuda”, conta Hemmatnia, considerado o primeiro ciclista de oceano do mundo. “Quando vi o avião, soube que estava a salvo. Poucas horas depois, fui resgatado por um barco da Marinha do Brasil.”
Esquadrão Orungan salva vidas
A cena do avião se aproximando foi filmada por Hemmatnia e provoca arrepios . Mas, para os militares do Primeiro Esquadrão do Sétimo Grupo de Aviação (1º/7º GAV), o chamado de Esquadrão Orungan, são cenas rotineiras. Desde janeiro de 2014, o esquadrão realizou 11 resgates, principalmente no sudeste do Brasil. Baseado na cidade de Salvador (BA), o Esquadrão Orungan conta hoje com nove aeronaves e 180 militares. Aproximadamente 60% são tripulantes, entre homens e mulheres, distribuídos em diversas funções a bordo, como pilotos, mecânicos e observadores. Todos trabalham em cooperação com a Marinha do Brasil. No caso do salvamento de Hemmatnia, o avião P-3AM Orion fez contato visual com o náufrago às 17h55m e se manteve na área até as 23h20m, quando o navio pesqueiro Ouled Si Mohand chegou.
Logo depois, o Navio Patrulha Macau, da Marinha, fez o resgate do ciclista, “Nós fazemos exercícios conjuntos de treinamento com a Marinha, como as Operações UNITAS, Fraterno, Aderex e Atlântico”, diz o 1º Tenente Cláudio Henrique Falcão dos Santos, do Esquadrão Orungan. “Quando há um incidente marítimo em que o SALVAMAR [serviço de busca e salvamento da Marinha] vislumbra apoio de aeronave de busca da FAB, o Comando de Defesa Aereoespacial Brasileiro (COMDABRA) aciona o meio de busca mais adequado ao tipo de incidente.”
Esforço ampliado
O Esquadrão Orungan é um dos três esquadrões que fazem parte da Aviação de Patrulha da FAB. Os outros dois são Esquadrão Phoenix, que fica em Belém (PA), e Esquadrão Netuno, baseado em Florianópolis (SC). Todos usam aviões com sensores e radares modernos para patrulhar a costa 24 horas por dia. Sua principal tarefa é defender os interesses do país, o que inclui riquezas marítimas como as reservas petrolíferas da camada pré-sal. Mas os salvamentos e o combate a crimes ambientais e atividades ilícitas também fazem parte da rotina.
“Em coordenação com a Marinha, nós fazemos um patrulhamento ostensivo das nossas águas (…) e prevenimos a ocorrência de atividades ilícitas, como tráfico de drogas ou crimes ambientais”, disse o Brigadeiro Roberto Pitrez, comandante da Segunda Força Aérea (II FAE), no Dia da Aviação de Patrulha, 22 de maio. As aeronaves de patrulha da FAB também integram uma rede conhecida como SAR, do inglês “Search and Rescue” [busca e salvamento]. Procuram naufrágios, barcos ou aviões perdidos e acidentes em alto mar. A tecnologia dos sensores e radares a bordo ajudam na busca e localização de vítimas. Além disso, militares especializados, conhecidos como observadores SAR, realizam uma busca visual de pessoas ou objetos que podem estar à deriva, como foi feito no resgate de Hemmatnia.
A área marítima total monitorada é de 13,5 milhões de quilômetros quadrados, bem maior do que o próprio território continental brasileiro, que tem 8,5 milhões de quilômetros quadrados. Para cobrir todo esse território, as aeronaves P-3AM têm capacidade de fazer voos com até 16 horas de duração, o que significa que podem ir à África e voltar. “Percorrendo grandes distâncias com velocidade, a FAB consegue cobrir uma área maior e de forma mais rápida”, disse o Brigadeiro Pritez à Agência Força Aérea. “As informações obtidas pelas aeronaves são repassadas aos navios da Marinha que podem, então, concentrar seus esforços nos locais indicados.”