O mercado brasileiro continua muito importante para a Boeing, mesmo depois de a empresa ter perdido a licitação dos caças para a Força Aérea Brasileira (FAB) para a sueca Saab no fim de 2013, diz Ben Cassidy, diretor-sênior de operações internacionais e de políticas governamentais da companhia americana. Segundo ele, a empresa tem um compromisso de longo prazo com o Brasil, como mostram o centro de pesquisa e tecnologia localizado em São José dos Campos e o trabalho desenvolvido no país na área de biocombustíveis.
O atual período de crescimento mais fraco da economia brasileira tampouco tira o interesse da Boeing no país, o principal mercado na América Latina, de acordo com Cassidy. Quem comanda a empresa no país é Donna Hrinak, embaixadora americana dos EUA no Brasil entre 2002 e 2004.
Em dezembro do ano passado, o governo brasileiro anunciou o resultado da licitação dos caças para a FAB que se arrastava havia mais de dez anos. O Brasil escolheu comprar o Gripen NG, da sueca Saab, em vez dos F/A-18 Super Hornet, da Boeing, e os Rafale, da francesa Dassault. A decisão ocorreu alguns meses depois de a presidente Dilma Rousseff ter adiado a visita de Estado a Washington marcada para outubro de 2013, devido às denúncias que tinha sido espionada pelo governo americano.
“Não é que não tenhamos ficado decepcionados, porque tínhamos o melhor produto, mas a nossa relação com o Brasil é de longo prazo”, diz Cassidy. Um exemplo desse compromisso é o centro de pesquisa e tecnologia no Parque Tecnológico de São José dos Campos, um dos seis que a empresa tem fora dos EUA, inaugurado em junho.
Há trabalhos em conjunto com instituições como a Universidade de São Paulo (USP) e a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) – com esta última, há estudos para desenvolver biomateriais que possam ser utilizados em aviões. Cassidy também destaca as pesquisas feitas no país na área de biocombustíveis. Em parceria com a Embraer, a Boeing terá um centro de pesquisa para desenvolver uma indústria de biocombustível sustentável para aviação no país, também em São José dos Campos.
A perspectiva de melhora na relação entre Brasil e EUA é bem vinda e poderá ser útil para melhorar o clima de negócios, diz Cassidy, ao responder sobre o encontro entre Dilma e o presidente Barack Obama no fim de semana, na cúpula do G-20, em Brisbane, na Austrália – também há a expectativa de que a presidente faça a visita de Estado a Washington em 2015.
“Isso pode ser tremendamente útil, não só para a Boeing, mas também para o governo dos EUA e para que mais pessoas nos EUA entendam a importância do Brasil”, diz ele, observando, porém, que a companhia busca ter uma relação com o país e com os clientes brasileiros que independa dessas questões.
Na parte de aviação comercial, a Boeing tem a Gol como a principal cliente no Brasil. Em outubro de 2012, acertou a encomenda de 60 aviões, uma compra de US$ 6 bilhões. A expectativa é que a entrega dos 737-MAX comece em 2018. Cassidy afirma ainda que a empresa está atenta a eventuais oportunidades que podem surgir no mercado de aviação regional.
A Boeing tem interesse em participar do Sistema de Gerenciamento da Amazônia Azul (Sisgaaz), projeto para monitorar 4,5 milhões de km2 da costa brasileira, que pode superar R$ 10 bilhões. Em fevereiro, ela fez uma demonstração para a Marinha do ScanEagle, veículo aéreo não tripulado da Insitu, subsidiária da Boeing.
Segundo a Boeing, a ideia foi mostrar como o ScanEagle pode ser utilizado no monitoramento da Amazônia Azul. Para uma companhia estrangeira participar do projeto, é necessário estar associada a uma companhia brasileira. Uma possibilidade seria a Embraer, com quem a Boeing já tem parcerias, como no caso do Super Tucano, que ganhou uma licitação da Força Aérea americana em 2013. Segundo Cassidy, a Boeing já conversou com várias empresas brasileiras sobre essa questão.
A empresa também considera promissora a área de segurança cibernética no Brasil, segundo Per Beith, diretor de soluções para segurança da informação da Boeing.