Aumentar as exportações de aeronaves e sistemas de defesa e segurança é a alternativa que a unidade de Defesa & Segurança da Embraer tem para atravessar com mais tranquilidade este momento de dificuldades orçamentárias que o governo brasileiro vive, afirma o presidente dessa divisão da companhia, Jackson Schneider.
“Entendemos a necessidade de ajuste fiscal do governo, mas a possibilidade de contingenciamento de recursos é um desafio a ser enfrentado pelo segmento de defesa da companhia”, disse. Ao contrário dos setores de aviação comercial e executiva, a valorização cambial afeta para baixo o faturamento da defesa, pois 60% da receita deste segmento na Embraer hoje é em moeda brasileira, explica Schneider.
O executivo admite que existam atrasos nos pagamentos dos projetos desenvolvidos para as Forças Armadas, mas que a empresa tem conversado com os interlocutores do setor para equacionar o fluxo de recebimento e até mesmo, em alguns casos, alterar o ritmo e o escopo de projetos. Ele cita como exemplo a modernização das aeronaves AMX e F-5. “Eu vejo um esforço legítimo e uma preocupação sincera da Força Aérea [FAB] e do Ministério da Defesa no sentido de buscar uma solução”, disse.
O faturamento da unidade de defesa foi de R$ 3,4 bilhões em 2014, 22,9% da receita total da companhia, de R$ 14,9 bilhões. A expectativa da empresa é que o faturamento deste segmento caia e fique entre US$ 1,1 bilhão e US$ 1,25 bilhão em 2015, algo em torno de 18% do total. Schneider diz que alguns pagamentos em atraso seriam efetuados na semana passada, mas não no montante que equacione o problema. “Não houve redução de investimentos para os projetos.
Nós estamos no mesmo ritmo, principalmente com o cargueiro KC-390, que é o principal programa da defesa, mas com uma preocupação importante referente ao andamento disso, pois não temos condições de assumir um projeto dessa envergadura sozinhos.” O KC-390 é considerado um projeto estratégico para a carteira de exportações da Embraer.
A aeronave realizou seu primeiro voo de teste em fevereiro. “A partir da apresentação da aeronave e, principalmente, do primeiro voo, a curiosidade de potenciais clientes tem se transformado em interesse efetivo”, disse. As vendas externas do KC-390, segundo Schneider, devem crescer a partir do próximo ano, quando ela estará certificada.
Atualmente, o KC-390 tem 28 encomendas firmes da FAB e outras 32 cartas de intenção da Argentina, Portugal, República Tcheca e Colômbia. A Força Aérea Sueca também já declarou que tem interesse na aeronave, além dos Emirados Árabes Unidos.
O principal produto de exportação da Embraer hoje na área de defesa continua sendo o avião de treinamento avançado Super Tucano, que acumula um total de 210 unidades vendidas e 190 entregues, para dez Forças Aéreas em todo o mundo. Atualmente, de acordo com o executivo, a Embraer está trabalhando em cerca de dez negociações efetivas de vendas para o Super Tucano.
As vendas do Super Tucano, diz ele, também ganharam um novo impulso a partir da seleção da aeronave pela Força Aérea dos Estados Unidos, em fevereiro de 2013. O contrato, avaliado em US$ 427,5 milhões, envolveu a venda de 20 aeronaves. Destas, cinco já foram entregues. O programa de desenvolvimento do caça sueco Gripen NG no Brasil também abre novas possibilidades de exportação para a Embraer.
A Saab já declarou a intenção de explorar conjuntamente as oportunidades de vendas globais do Gripen NG, que irá disputar um mercado potencial de três mil caças nos próximos 20 anos. A empresa sueca pretende capturar entre 10% e 15% desse volume, o que poderá gerar negócios da ordem de US$ 30 bilhões para as duas empresas.
A Embraer e a Saab já assinaram um memorando de entendimento que assegura a posição de liderança da fabricante brasileira no programa de desenvolvimento do caça no Brasil. O contrato de parceria entre as duas empresas está sendo finalizado e a intenção é que ele seja assinado esta semana, durante a Laad, evento do setor que acontece este ano no Rio.
A Embraer, segundo Schneider, vai coordenar as atividades de produção e montagem final do avião na unidade de Gavião Peixoto (SP), bem como a parte de desenvolvimento e engenharia, tanto da versão monoposto (um assento) quanto a biposto (dois lugares). A versão biposto será inteiramente desenvolvida no Brasil. Esta será a primeira experiência de desenvolvimento de um caça supersônico pela Embraer.
Por conta da parceria, Schneider diz que a Embraer terá número relevante de engenheiros brasileiros morando na Suécia por três anos. A área de defesa e segurança da Embraer, incluindo as empresas coligadas (Atech, Visiona, Savis, Harpia, Ogma e Bradar) têm aproximadamente 4 mil empregados.