Quando o presidente francês, François Hollande, desembarcar no Brasil, depois de amanhã, trará um personagem especial: Éric Trappier, presidente da Dassault, fabricante do caça Rafale.
A França tenta vender há anos o caça ao Brasil. O Rafale foi dado como quase certo vencedor da concorrência F-X2 no governo Lula (2003-2010) pelo então presidente Nicolas Sarkozy, em 2009.
As chances de o caça francês ser escolhido o principal avião de combate da Força Aérea Brasileira durante décadas futuras –depois de uma novela que já dura mais de uma delas– aumentaram por vários motivos.
François Hollande tem uma boa relação com a presidente Dilma Rousseff. Ela o visitou poucos meses depois de ele ser eleito.
Trappier deverá responder a todos os detalhes –técnicos, políticos, financeiros– que Dilma e Hollande quiserem saber sobre o bilionário contrato para aquisição de 36 aviões –mas que podem chegar a 120, se a FAB tiver condições de renovar toda sua frota de caças-bombardeiros e for viável sua produção no Brasil pela Embraer.
Um dos principais rivais do Rafale, o caça americano F/A-18 Super Hornet, sofreu muito politicamente com as revelações de espionagem dos EUA, inclusive no Brasil e na França. Outro ponto a favor do Rafale é a parceria que Brasil e França têm na construção de submarinos.
Em missões recentes, como no Afeganistão, na Líbia e no Mali, o Rafale foi muito bem-sucedido em combate.
“Uma das missões envolveu um voo da base aérea de Saint-Dizier, na França, até o Mali, o equivalente a voar de Porto Alegre a Boa Vista”, disse ontem Benoît Dussaugey, o novo vice-presidente responsável pelo consórcio Rafale International.
O “principal vendedor” do mais importante avião da Dassault veio ao Brasil para dez dias de conversas.
Ele falará com autoridades e empresas nacionais que poderão se envolver na produção de componentes para os Rafale da FAB caso ele seja escolhido pelo governo de Dilma –ou seu sucessor, se ela decidir adiar a compra, como fizeram os dois presidentes anteriores.
Está prestes a ser concluído um acordo de venda e produção de 126 Rafale para a Índia, incluindo no final 100% de nacionalização do avião, com total transferência de tecnologia. Seria um bom exemplo do que poderia acontecer no Brasil, embora o objetivo inicial aqui seja de uma nacionalização de pelo menos 50% (mais que isso não traria custo-benefício para apenas 36 aviões).
Dussaugey esteve ontem na Embraer, uma das cerca de 50 empresas, entidades ou centros de pesquisa com os quais o consórcio já tem acordos de cooperação.
Um dos exemplos de transferência de tecnologia que ele cita é a Omnisys, de São Bernardo do Campo (SP), controlada pela multinacional Thales, que seria responsável pelos radares do Rafale.
“O Rafale é inteiramente francês, o que permite uma irrestrita transferência de tecnologia”, diz Dussaugey, alfinetando seus concorrentes, o sueco Gripen, que possui componentes fabricados nos EUA, e o F/A-18, ambos dependentes do bom humor do governo americano.