“A mãe que perde um filho, um menino lindo de 21 anos, sofre de uma dor tão grande que não tem como descrever e nem comparar com nada. Simplesmente, eu estou destruída”, disse a dona de casa Michele Ferreria Moreira Mikami, 37 anos. Michele é a mãe do cabo do Exército Michel Augusto Mikami, que foi morto com um tiro na cabeça enquanto patrulhava o Complexo da Maré em 28 de novembro. O ataque tirou a vida de um experiente jovem Cabo do Exército, e sua família lamenta a perda.
Em maio, Mikami retornou do Haiti, onde serviu por seis meses na Missão das Nações Unidas para Estabilização do Haiti (MINUSTAH). Ao retornar, Mikami se voluntariou para a operação na Maré. O cabo Mikami adorava seu trabalho e pretendia seguir a carreira militar no Brasil, mas agora a causa a que ele dedicou sua vida continuará sem ele.
Família de Mikami lamenta sua perda
Mikami entrou para o Exército em 1º de março de 2012. Ele acreditava na missão da Força de Pacificação de promover a segurança para os moradores das favelas mais perigosas do Rio, assim como acreditava na missão da MINUSTAH ao servir no Haiti. “Ele dizia que no Haiti até os bandidos e traficantes respeitavam o Exército Brasileiro, porque sabiam que os soldados estavam lá para ajudar”, disse Michelle Mikami. “Risco sempre há, mas nenhum lugar é tão arriscado quanto uma favela do Rio de Janeiro.”
Seu filho encarou bravamente os perigos de patrulhar as favelas onde os traficantes de drogas e as gangues operavam, disse Michelle. “A gente perguntou se ele não tinha medo de morrer. E ele respondeu que morrer faz parte da vida”, contou. Ele era diferente. Em algumas pessoas, vemos a maldade no olhar. No dele, só víamos bondade. Foi um anjo na nossa família. Entrou no Exército para salvar vidas e isso acabou custando a dele”, disse a tia do militar, Mirian Mikami.
O sacrifício do cabo foi reconhecido pela presidente Dilma Rousseff. “Quero expressar minha dor e solidariedade à família e aos amigos de Michel”, disse em nota.
Traficantes de drogas são suspeitos do ataque
Um ataque violento por traficantes de drogas contra os membros da Força de Pacificação que patrulhavam o Complexo da Maré causou a tragédia, suspeitam os investigadores do Exército. Mas a morte de Mikami não vai deter suas patrulhas ou esforços para localizar e confrontar os narcotraficantes.
“O assassinato covarde do nosso militar não vai retroceder o trabalho de pacificação. O evento da morte é doloroso”, disse o General de Brigada Ricardo Rodrigues Canhaci, Comandante da Força de Pacificação. Ele assumiu o comando em 15 de outubro e, desde então, lidera 2.700 soldados do Exército e da Marinha. “Perdemos uma pessoa de bem, que saiu de sua casa em outro estado para lutar pela paz da população. Mas somos profissionais preparados para crise e conflitos e vamos absorver a dor, progredir e trabalhar com mais vontade.”
A investigação do Exército indica que o assassino ou assassinos pertencem à gangue de narcotráfico de Thiago da Silva Folly, conhecido como “TH”. “A Força de Pacificação está realizando ações específicas para prender todos os envolvidos na morte do cabo Mikami”, relatou a Força de Pacificação da Maré.
Mikami era parte da missão de pacificação
Conhecida como “Operação São Francisco”, a missão de pacificação da Maré da qual Mikami participava deveria ter acabado em 31 de julho. Como os narcotraficantes permaneceram escondidos e operavam da área, a missão foi prorrogada várias vezes. Ela deve acabar em 31 de dezembro, mas autoridades do governo do Rio disseram que pode ser prorrogada novamente.
Desde 5 de abril, quando a Força de Pacificação começou a operar no Complexo da Maré, foram presos mais de 500 suspeitos, inclusive cinco supostos líderes de gangue, e foram realizadas 229 apreensões de drogas. Eles também recuperaram 62 motos e 49 veículos roubados.
Em consequência, as tropas militares normalmente encaram ações hostis dos criminosos. Desde 15 de outubro, houve 115 confrontos entre membros da Força de Pacificação e supostos criminosos. O risco da Força de Pacificação é maior devido à geografia do Complexo da Maré, que engloba 15 comunidades com uma população de 140.000 pessoas. Há casas construídas uma sobre a outra. Algumas têm mais de um piso e, assim, são ideais para atiradores. Muitas ruas, vielas e retornos formam labirintos que os criminosos normalmente usam para fugir das forças de segurança.
As Forças Armadas não são o único alvo de ataques de narcotraficantes e outros criminosos. De janeiro a novembro de 2014, 106 policiais militares foram mortos no Rio de Janeiro. “(Os traficantes) são facções que oprimem a população”, disse Canhaci. “E, por estarem acuadas, por todo esse prejuízo financeiro que têm, passam a atuar contra a tropa sistematicamente de forma covarde.”