É incomum na administração pública uma decisão política dessa natureza: paralisar um projeto simbólico, como o das UPPs, para reavaliar erros e corrigir rumos. É bem-vinda a decisão do governo estadual de mudar o comando de 16 das 38 Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs).
Ela transmite à sociedade uma mensagem relevante sobre o futuro da política de segurança pública no Estado do Rio: a do império do planejamento, e não da força; da racionalidade, e não de iniciativas improvisadas, típica de administrações mais preocupadas com o mercado eleitoral futuro do que com o serviço prestado ao público.
O governo já reconheceu dificuldades no programa estadual, cujas virtudes são conhecidas. O diagnóstico do problema começou pela Rocinha, onde a insanidade prevalecente no comando do posto policial local resultou no desaparecimento do pedreiro Amarildo Dias de Souza, aos 49 anos de idade, num caso até hoje não completamente esclarecido.
Viu-se ali, como resultado, a quebra da confiança dos moradores na força de segurança pública. Recuperar o crédito será difícil, eventualmente penoso, mas não é impossível, desde que os objetivos de envolvimento da comunidade sejam claros e as ações transparentes, com abertura à crítica pública. Só assim a polícia poderá servir à paz em um bairro densamente povoado, cujos moradores hoje não conseguem transitar por trechos conhecidos como Roupa Suja, Beco 199, Rua Dois e Valão, entre outros.
Diferentes são os problemas no Complexo do Alemão, onde o planejamento deve focar a resiliência do tráfico. A região é inóspita às grandes ofensivas táticas, até mesmo pela extrema carência de infraestrutura — há locais sob absoluto “silêncio de rádio”, por ausência de sinal, como comprovou o Exército. Taxas de criminalidade ascendentes, também, são constatadas na Baixada e na Zona Norte (Morro dos Macacos, em Vila Isabel, e Chatuba, no Complexo da Penha, entre outras localidades).
Em boa hora, o governo estadual decidiu paralisar a expansão do programa para reavaliar cada uma das 38 Unidades de Polícia Pacificadora. E, para indicar a disposição de levar adiante as reformas necessárias, observando as necessidades e peculiaridades de cada uma, decidiu terminar o ano anunciando a mudança de comando em 16 delas.
É incomum na administração pública uma decisão política dessa natureza: paralisar um projeto simbólico como esse, para reavaliação dos erros e correção de rumos. Em silêncio, a Secretaria de Segurança conduziu os estudos prévios, nos últimos seis meses.
Com os dados coletados nas 38 áreas- alvo, prevê-se que o plano seja avançar na consolidação das UPPs existentes, o que pode ser visto como tarefa exaustiva, porém inteiramente necessária. Só depois disso, segundo o secretário José Mariano Beltrame, será possível uma outra etapa de expansão do programa. Sábia decisão.
FONTE : O Globo