Superando as expectativas das secretarias de Segurança Pública, nos primeiros dias de bola rolando na Copa do Mundo, apenas a Polícia Militar foi necessária para conter manifestações pontuais, nenhum estado até agora precisou do reforço das Forças Armadas.
De acordo com especialistas, a polícia manteve o controle porque o público dos protestos foi muito pequeno. O governo federal também avalia que o começo do megaevento transcorreu com “normalidade”, e a expectativa do Planalto é que as manifestações diminuam conforme a equipe canarinho avance no torneio.
Mas, apesar do clima de tranquilidade, confusões pontuais ocorreram em pelo menos cinco cidades sedes — São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Salvador e Belo Horizonte. Ontem, 11 pessoas foram detidas na capital mineira em protesto.
Segundo o Ministério da Defesa, nenhum governador requisitou o reforço das forças de contingência. Vinte e um mil militares foram colocados à disposição das unidades da Federação em caso de tumulto.
Para o sociólogo do Observatório Internacional da Democracia Participativa Rudá Ricci não se pode ignorar os recentes confrontos.
Na última quinta-feira, durante a abertura do Mundial, em São Paulo, o batalhão de choque da PM usou balas de borracha e bombas de gás para dispersar manifestantes na Radial Leste e na estação do metrô Tatuapé — principais vias de acesso ao Itaquerão.
“A última coisa que a PM pode fazer é encurralar pessoas em locais fechados, isso gera pânico e é a principal causa de pisoteamento com mortes em grandes multidões”, criticou.
Na avaliação do governo federal, a atuação da polícia paulista foi correta no sentido de garantir o acesso dos torcedores ao estádio. “O que a PM fez foi evitar a qualquer custo que a manifestação impedisse o direito de quem queria torcer”, comenta o ex-secretário nacional de Segurança Pública coronel José Vicente da Silva.
O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), disse que a Polícia Militar “agiu como é seu dever” e “evitou um problema maior” nas ações contra manifestantes.
Excessos
Na última sexta-feira, a presidente Dilma Rousseff se reuniu com um grupo técnico de ministros, entre eles o da Defesa, Celso Amorim, e o da Justiça, José Eduardo Cardozo, que avaliaram como positiva a atuação da polícia na maioria das capitais, salvo alguns excessos em São Paulo, Manaus e Belo Horizonte.
A ministra da Secretaria de Direitos Humanos, Ideli Salvatti, classificou como “desnecessária” a truculência em alguns protestos, por exemplo, o caso de um manifestante já rendido em São Paulo que teve os olhos atingidos por um spray de pimenta.
O comando da PM, inclusive, abriu inquérito para apurar se houve excessos no episódio. O manifestante Rafael Marques Lusvarghi, 29 anos, também foi atingido por duas balas de borracha antes de ser detido.
Sociólogo especialista em segurança pública da Universidade de Brasília (UnB), Antônio Flávio Testa apoiou a postura da polícia e ressaltou o enfraquecimento das manifestações em relação a junho do ano passado. “Vamos ver agora protestos mais fragmentados. O brasileiro é um povo estranho, com a Copa do Mundo, ele não apoia mais essas manifestações.”
O coronel José Vicente da Silva concorda com a avaliação de Testa. Para ele, no ano passado, as manifestações tinham o apoio da população. Agora, a postura é diferente. A polícia conta com o apoio da maioria das pessoas, que deseja aproveitar o megaevento.
FONTE : Correio Braziliense